de Georges Bizet
Théâtre du Capitole de Toulouse
Duração total: 01:59
Cantada em francês
Ópera em três atos, encenada pela primeira vez no Théâtre Lyrique, em Paris, em 1863.
Libreto: Eugène Cormon e Michel Carré
Maestro: Victorien Vanoosten
Diretor: Thomas Lebrun
Orquestra do Nacional do Capitole de Toulouse e Coro do Capitole
Anne-Catherine Gillet (Leila, soprano)
Mathias Vidal (Nadir, tenor)
Alexandre Duhamel (Zurga, barítono)
Jean-Fernand Setti (Nourabad, barítono)
Situado na ilha do Ceilão, o libreto conta como o pacto de amizade entre dois homens se vê ameaçado pelo amor de ambos pela mesma mulher, ela própria dividida entre sua atração pelo pescador Nadir e seu voto de castidade como sacerdotisa.
Quando um ainda jovem Bizet estreia Os caçadores de pérolas no Théâtre Lyrique, o público aprova o espetáculo, porém os críticos o recebem com certa hostilidade, menosprezando a obra. A exceção foi Hector Berlioz, que registra no Journal des Débats de 8 de outubro de 1863 “um número considerável de belos trechos, expressivos, cheios de paixão e de um rico colorido”. A ópera será apresentada dezoito vezes, sem chegar a ser reencenada com o autor ainda em vida.
A partir de 1886, a ópera passa a ser montada regularmente na Europa e nos Estados Unidos antes da estreia de uma nova versão a 21 de abril de 1893 na Opéra-Comique. A partitura original tendo sido perdida, a obra foi durante muito tempo apresentada em suas versões alteradas até que – na década de 1970 – esforços para a reconstituição da sua forma original conseguiram, afinal, fazer com que ópera voltasse a atender às intenções de Bizet.
Pouco mais de 160 anos depois da sua estreia, o Capitole propõe uma nova produção, cujo ânimo e colorido atestam a determinação de assumir o exotismo do libreto original.
É compreensível que Thomas Lebrun, coreógrafo antes de assumir a função de diretor, tenha tirado pleno partido do Corpo de Baile da Ópera Nacional do Capitole, oferecendo um repertório de gestos que se inspira livremente na tradição indiana. Uma vez que a cortina inicial se ergue para mostrar uma festa ritual, os dançarinos – muito bem-vindos – quase não saem mais de cena, sua presença acabando por se integrar de maneira natural à narrativa.
O espetáculo se mostra em perfeita harmonia com o espírito da obra, tal como ela podia ser percebida pelos espectadores do Segundo Império. Palmeiras ou divindades locais, andaimes de bambus, figurinos cintilantes com um toque de exotismo que beira o kitsch. Estamos em plena Bollywood!
Leila, a jovem sacerdotisa, é vivida por Anne-Catherine Gillet, que o público do Ópera na Tela teve o privilégio de ouvir ao vivo em 2021, cantando no Parque Lage. Sua voz possante e calorosa recorre a um vibrato bem definido. Ela sabe dar mostra de um grande refinamento vocal e de uma grande precisão, tanto na sua elocução como nos seus vocalises.
Alexandre Duhamel, se valendo da experiência em desempenhos anteriores no papel de Zurga, encarna de forma natural a autoridade do personagem. Atuando geralmente no registro forte, ele revela, contudo, seu talento no colorido de certos piani comoventes no terceiro ato. Empresta assim credibilidade tanto à calma autoridade do papel, como às crises de ciúmes de Zurga, da mesma forma que à sua redenção final.
Nadir é encarnado por Mathias Vidal com o refinamento e a sensibilidade musical de seus piani. Seu timbre é elegante e sua voz é sonora nos agudos. Autoridade e força de caráter definem bem a interpretação do personagem do grande sacerdote Nourabad por Jean-Fernand Setti. Dominando o palco pela sua altura, sua potente voz de baixo fixa imediatamente a força e a ascendência de seu personagem.
A Orquestra Nacional do Capitole é dirigida por Victorien Vanoosten em um ritmo particularmente dinâmico, ora redonda e saltitante, ora refinada e sensível, porém sempre com grande energia. A riqueza e as nuances da partitura de Bizet são apresentadas seguindo a alternância entre, de um lado cores bem definidas no espírito das fanfarras populares adornadas por instrumentos de sopro, e por outro, por presságios sombrios e ameaçadores de tempestade e de morte, auxiliados por contrabaixos e violoncelos.
O Coro da Ópera Nacional do Capitole, dirigido por Gabriel Bourgoin, brilha tanto pela exuberância dos figurinos cintilantes como pelo registro forte das suas vozes. A presença cênica, aliando movimentos de multidão e forças vocais, contribui para este grande sopro de vida que constitui a obra de Bizet.
Essa versão de Pescadores de pérolas lança mão assim dos aspectos do potencial contido na obra no que tem de mais forte: a beleza e os contrastes da sua música e o exotismo vibrante de seu contexto. Essa viagem visual e musical multicolorida foi saudada pelos aplausos generosos do público.