de Léo Delibes
Ópera Comique de Paris
Duração: 02:15
Cantada em francês
Ópera em três atos, encenada pela primeira vez a 14 de abril de 1883 na Opéra Comique de Paris
Libreto: Edmond Gondinet e Philippe Gille
Maestro: Raphaël Pichon
Diretor: Laurent Pelly
Coro e Orquestra: Pygmalion
Sabine Devieilhe (Lakmé, soprano)
Frédéric Antoun (Gerald, tenor)
Ambroisine Bré (Mallika, mezzo-soprano)
Stéphane Degout (Nilakantha, barítono)
Philippe Estèphe (Frederick, barítono)
Em uma Índia recentemente colonizada, o amor à primeira vista entre um oficial britânico e a filha de um brâmane desperta tensões entre as duas comunidades.
Inspirado pela obra do escritor Pierre Loti, Léo Delibes põe em cena, numa trama audaciosamente contemporânea, elementos de uma ópera orientalista: uma paixão impossível, a evocação musical de uma civilização longínqua, o choque entre o fanatismo religioso e a sensualidade. Concebida originalmente para duas estrelas da Opéra Comique, a soprano Marie van Zandt e o tenor Talazac, Lakmé tornou-se um sucesso internacional sem deixar de ser um produto típico da Opéra Comique, em cujo palco foi encenada mais de 1600 vezes desde 1883.
Raphaël Pichon na batuta e Laurent Pelly na direção de cena sabem ressaltar ao máximo o elemento de verdade dos personagens, a poesia de cada cena e o papel concedido à questão do questionamento político. Voltando às suas origens, é a versão com diálogos falados – ligeiramente adaptada – que é aqui proposta, seguindo a fórmula da sua estreia em 1883.
Para a sua primeira montagem de Lakmé, Laurent Pelly optou pelo despojamento e pela clareza. A encenação não recorre a nenhuma cor mais viva, mas sim a vários matizes de branco, bege e preto, mesmo na maquiagem e nos figurinos. Nada de deusas com dez braços e de alusões à Índia colonizada, deixando a ênfase recair na paixão fulminante que domina dois seres que teriam todos os motivos para se opor um ao outro. Primeiramente Gerald, oficial inglês comprometido por noivado com a filha do governador e com seu percurso de vida já traçado. Em seguida Lakmé, a filha idealizada pelo pai, o brâmane Nilakantha, totalmente colocada sob a dependência e autoridade dele, e que aspira claramente a um horizonte mais amplo. A concepção cênica de Laurent Pelly cria uma atmosfera de mistério, a um só tempo luminosa e desprovida de afetação. O exotismo é apenas sugerido e se mostra perfeitamente adequado à deliciosa e melodiosa música de Delibes.
No plano musical, o espetáculo visivelmente exerce seu absoluto encanto sobre a plateia. Sabine Devieilhe reencontra o papel-título – com suas possibilidades dramáticas e de virtuose – no qual o público da Opéra Comique a descobriu em 2014. Desde então ela inegavelmente aprofundou sua interpretação, em sintonia com sua evolução vocal natural. A voz se firmou, ligeiramente mais possante, sem perder, contudo, a leveza e o charme originais. Sempre muito claro, seu timbre seduz por sua luminosidade e sua coerência. O meio-tom utilizado com frequência e sustentado demoradamente parece particularmente delicado, de uma essência quase prestes a se evaporar. Os trinados, as notas entrecortadas, a facilidade dos agudos e aqui do superagudo, a sensibilidade do fraseado dominam uma performance sedutora.
Afastado de seu repertório preferido, Raphaël Pichon dirige o Ensemble Pygmalion com muita elegância e com uma bem-vinda vivacidade. Ele deixa a música de Léo Delibes se expressar da maneira que lhe é mais favorável, sem efeitos rebuscados ou uma excessiva ênfase dramática. O cuidado concedido ao equilíbrio do conjunto não tolhe o que a partitura tem de sensual e expressivo, muito ao contrário.
O público parisiense brindou com uma demorada salva de palmas este espetáculo que encanta tantos os olhos como os ouvidos e as seis apresentações programadas tiveram seus ingressos esgotados.