de Amilcare Ponchielli
Teatro San Carlos de Nápoles
Duração: 02:48
Cantada em italiano
Melodrama em quatro atos, baseado na peça Angelo, tirano de Padova de Victor Hugo.
Maestro: Pinchas Steinberg
Diretor: Romain Gilbert
Figurino: Christian Lacroix
Orquestra, cor e ballê do Teatro de San Carlo
Anna Netrebko (La Gioconda)
Eve-Maud Hubeaux (Laura)
Alexander Köpeczi (Alvise Badoèro)
Kseniia Nikolaieva (La Cieca)
Jonas Kaufmann (Enzo Grimaldo)
Ludovic Tézier (Barnaba)
A ação se passa em Veneza no século XVII. Enzo Grimaldi, um nobre banido de Veneza, retorna disfarçado de marinheiro. É amado pela cantora Gioconda, mas ama Laura, esposa do grande vereador Alvise. Barnaba, um espião que deseja Gioconda, mas que ela rejeita, reconhece Enzo e o denuncia ao conselho.
Arrigo Boito transformou profundamente a trama concebida por Victor Hugo para adaptá-la ao esquema adotado por Verdi desde meados do século XIX. La Gioconda representa uma ponte entre, de um lado, o drama romântico verdiano (Aída e Otello), do qual toma muito emprestado, como as melodias e estruturas, e de outro lado, a futura ópera verista pucciniana.
É uma das únicas óperas que oferece um papel importante a cada um dos grandes tipos de voz: soprano, mezzo, contralto, tenor, barítono e baixo. Obteve grande sucesso e ainda deve sua fama à grande ária para sopranos Suicidio e ao seu balé A dança das horas, que inspirou Walt Disney no longa-metragem de animação de 1940, Fantasia.
Os maiores artistas do canto lírico do século XX se distinguiram nesta ópera: de Maria Callas a Montserrat Caballé ou Renata Tebaldi para o papel de Gioconda; Giuseppe di Stefano ou Mario del Monaco para o de Enzo; Giulietta Simionato, Ebe Stignani e Fiorenza Cossotto para Laura.
O diretor francês Romain Gilbert situa sua encenação no local e na época do libreto original (na Veneza do século XVII e, mais precisamente, no famoso Palácio Ducal). Sua abordagem, associada à visão de Christian Lacroix para os figurinos, é a um só tempo tradicional e visualmente exuberante, cedendo a prioridade ao canto. O caráter suntuoso das roupas e adornos que prevalece no palco, assim como a paleta de cores utilizada, sugerem a atmosfera do carnaval veneziano, sobretudo com as figuras egressas da commedia dell’arte (Arlequim, Polichinelo, Pantalone e outros) que dominam o balé na sua elegância e no seu espírito galante, com a coreografia de Vincent Chaillet.
Ludovic Tézier encarna com convicção e brio o vil Barnaba. O barítono francês está plenamente imbuído da dinâmica do seu papel, a voz se projeta longe, colorida por um ligeiro vibrato que sustenta a expressão. Ele dá sentido ao texto, enunciado com todo o zelo até a derradeira consoante, o conjunto articulado com um fraseado “redondo” e um legato construído com todo o cuidado. A forma técnica do cantor se mostra no seu apogeu, o que transparece no controle do seu fôlego. O duo que faz com Jonas Kaufmann é marcado por um heroísmo lírico vigoroso, com a voz de peito ressoando no desempenho dos dois solistas.
Anna Netrebko encarna uma Gioconda de cabelos longos e aparência juvenil, ainda que madura em termos vocais e bem encorpada nos graves. Ela domina o palco pelo vigor demonstrado pela sua voz, com uma emissão abundante e volumosa, bastante sonora, ainda que lançada desde o fundo do palco. Sua arte vocal chega à apoteose do ato final, aquela do nobre sacrifício da heroína com a ária Suicidio, delicada e lancinante.