O OURO DO RENO

Richard Wagner - Ópera de Berlim

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Cantado em alemão

2h36

O Ouro do Reno (Das Rheingold), é o primeiro do ciclo de quatro óperas épicas, criado em 1876: O Anel dos Nibelungos.

Os filmes das três outras obras do ciclo “O Anel dos Nibelungos” (A Valquíria, Siegfried e o Crepúsculo dos Deuses) serão programados nos cinemas.
Consultar a programaçao.

Maestro: Christian Thielemann
Diretor: Dmitri Tcherniakov
Orquestra: Staatskapelle de Berlim

Michael Volle (Wotan)
Lauri Vasar (Gunther)
Siyabonga Maqungo (Froh)
Rolando Villazón (Loge)
Johannes Martin Kränzle (Alberich)
Andreas Schager (Siegfried)
Mika Kares (Hagen)
Anja Kampe (Brünnhilde)
Mandy Fredrich (Gutrune)
Violeta Urmana (Waltraute)

O centro da história é o anel mágico forjado pelo anão Alberich a partir do ouro roubado do rio Reno quando as donzelas do Reno se distraíram. Diversas personagens míticas lutam pela posse do objeto, incluindo Wotan, o chefe dos deuses.

Para o aniversário de 80 anos de Daniel Barenboim, a Staatsoper Berlin quis oferecer ao seu diretor musical desde 1992 uma nova produção de um Anel completo, tocada quatro vezes na temporada 2022-23. Infelizmente, a doença terá decidido o contrário e, algumas semanas antes da estreia, fica decidido que Christian Thielemann iria assumir esse desafio, o que ele consegue com rigor e brio.

A visão de Tcherniakov é, como sempre, surpreendente e ousada, mas sem nunca trair as intenções do libreto. A ação ocorre num Centro de pesquisas científicas, presidido por Wotan, chamado E.S.C.H.E. Se lermos essas letras como um acrônimo, entendemos “Esche”, que é o freixo em alemão. O freixo, lembremo-nos, é a árvore fundadora da Tetralogia, aquela que fica na casa de Hunding e Sieglinde, onde Wotan enfiou sua espada que só Siegmund pode extrair.

E.S.C.H.E é um centro onde é realizado um vasto experimento científico que consiste em criar um novo homem. A proposta de Tcherniakov esvazia o que tornou o caráter específico da obra desde sua criação – os aspectos mitológicos e lendários, o caráter épico de boa parte desta história, o afresco grandioso e apocalíptico – para focar sobre os dramas do indivíduo em ambiente fechado, uma abordagem geral que contrasta com as grandes encenações mais recentes.

Tcherniakov de alguma forma descontextualiza a obra de Wagner ao passar para outra ordem, sem necessariamente cair na provocação. O que há de novo e talvez histórico em sua abordagem é que ele introduz outra história na do Anel, outra história que obviamente lança uma luz muito diferente sobre o quadro wagneriano e mostra que a dramaturgia da obra de Wagner continua a resistir e a entregar novas perspectivas e a ser fonte inesgotável de inspiração e verdades sobre o nosso mundo. Encontramos o elemento central do Anel Wagneriano que é o exercício do poder, mas desta vez metaforizado pela pesquisa científica.
A questão colocada sobre o valor da ciência, dos seus excessos, da forma de conduzir experiências “a la Doctor Strangelove”, está no centro da questão ética hoje, e é também uma questão eminentemente política que a confiança cega numa ciência da qual se pode fazer nascer a monstruosidade por manipulação genética.

O que chama também a atenção nesta encenação é o trabalho muito apurado sobre o texto e a relação muito atenta do texto com os movimentos das personagens. O trabalho sobre a precisão dos sentimentos, sobre as sensibilidades, sobre os refinamentos psicológicos é quase único nas produções da Tetralogia. Cada personagem expressa por seus gestos e olhares toda uma série de movimentos da alma, de mudanças de humor, de convulsões internas de uma forma verdadeiramente surpreendente.

Mesmo que algumas ideias não sejam novas, Tcherniakov e sua equipe há muito consideram as grandes encenações do passado, reinterpretando-as, daí a extraordinária originalidade de um espetáculo que traz à tona todas as verdades dos personagens individuais e a crueza das situações. Um monumento de verdade, inteligência e sensibilidade, interpretado por um elenco próximo do ideal, porque, de acordo com a vontade de Wagner, todos sabem cantar, claro, dizer um texto e sobretudo mover-se em um palco.

As ninfas protetoras do ouro do Reno são abordadas pelo anão nibelungo e reagem com desdém. Elas dizem que o ouro pode ser transformado em um anel mágico cujo dono se torna soberano do mundo, se renunciar o amor. O anão, enfurecido, decide amaldiçoar o amor e captura o ouro.

           

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