Turandot

De Giacomo Puccini - Teatro Regio de Turim

Ópera em três atos
Libreto de Giuseppe Adami e Renato Simoni
Baseado na peça Turandotte, de Carlo Gozzi
Cantada em italiano
Encenada pela primeira vez em 1926 no Teatro all Scala de Milão, Itália
Duração: 1h54

Maestro: Gianandrea Noseda
Direção: Stefano Poda
Cenografia, figurino e coreografia: Stefano Poda
Orquestra e coro do Teatro Regio de Turim

Rebeka Lokar (Turandot)
Jorge de León (Calaf)
Erika Grimaldi (Liù)
In-Sung Sim (Timur)
Antonello Ceron (Altoum)
Marco Filippo Romano (Ping)
Luca Casalin (Pang)
Mikeldi Atxalandabaso (Pong)

A princesa Turandot, filha do imperador Altum, da China, odeia todos os homens e jura que jamais se entregará a um deles. Essa aversão tem sua origem no estupro e assassinato da princesa Lo-u-Ling, fato que a deixou traumatizada para sempre. Sob a pressão do pai, ela aceita se casar. Porém, impõe uma condição: ela proporá três enigmas a todos os candidatos, que serão decapitados caso não consigam desvendá-los. Desse modo, ela somente se casará com aquele que decifrar as três dificílimas charadas.

Obra inovadora, tanto pela tensão dramática quanto pela escrita musical, que já prenuncia características que se afirmariam no século XX, Turandot permaneceu inacabada devido à morte de Puccini. Desse modo, a ópera termina no terceiro ato, depois do sublime coro final que acompanha a saída dos restos mortais da pobre Liù, a qual – por amor – acaba de se sacrificar para salvar Calaf. Ponto culminante em termos de emoção!

Na apresentação da obra, no Teatro alla Scala de Milão, a 25 de abril de 1926, o maestro Arturo Toscanini a certa altura parou a música para declarar ao público: “Aqui Giacomo Puccini interrompeu seu trabalho. A morte, desta vez, foi mais forte do que a arte”. Foram encontrados no leito de morte do compositor alguns esboços do dueto final e o jovem aluno de Puccini, Franco Alvano, foi escolhido para escrever o fim mais adequado possível, levando em conta as últimas indicações de Puccini. Essa conclusão, no entanto, está longe de contar com uma aprovação unânime, em vista do seu caráter excessivamente grandioso, muito distante da vontade de Puccini de atingir um ideal que se aproximasse do célebre dueto do terceiro ato de Tristão e Isolda.

A exemplo de Toscanini, o maestro Noseda, regente da Orquestra do Teatro Regio, optou ele mesmo por levar a apresentação apenas até o ponto criado por Puccini.

Obra com características de grande espetáculo, ela exige uma multidão de personagens, capazes de fazer soar sua potência excepcional quanto aos corais. Pede também grandes vozes e uma orquestra suntuosa, à altura da grandiosidade da Pequim milenar, na qual se exerce o poder despótico da princesa cruel. Nesse aspecto, esta nova produção pode ser considerada particularmente bem-sucedida.

A um só tempo moderna e intemporal, a direção de Stefano Poda se esforça para tornar visível a alma profunda da partitura musical. Tudo – a direção dos atores, o cenário, os figurinos, a iluminação, a coreografia – foi concebido por ele, o que confere ao espetáculo uma profunda unidade estilística e uma grande coesão cênica e dramática. Emana uma poesia envolvente desse espaço cenográfico singular, no qual os personagens se movem segundo uma coreografia de precisão milimétrica. O universo é composto de branco – na China antiga, a cor do luto – e de negro, sutilmente pontuado por vermelho. As roupas atemporais, estilizadas, sugerem tanto algo de clássico como de futurista. O corpo de baile evoca os “ignudi” de Michelangelo no teto da Capela Sistina.

A partitura é enriquecida pela altíssima qualidade da Orquestra do Teatro Regio, conduzida por seu regente, Gianandrea Noseda, totalmente inspirado, que a dirige iluminando com poesia e majestade a rica paleta das harmonias singulares que evocam tradições musicais do Oriente e pelas tonalidades vanguardistas do início do século XX.

O papel-título é interpretado pela jovem soprano eslovena Rebeka Lokar, com uma voz ampla, cálida e de grande pureza. Calaf é vivido pelo tenor Jorge De Leon, estrela em ascensão com uma expressão vocal calorosa, a princípio um pouco contida, em seguida desenvolvida com nuances e lirismo. Liù é encarnada com muita sensibilidade pela soprano Erika Grimaldi, comovente na fina silhueta da jovem escrava, fiel a seu primeiro amor, pelo qual ela se sacrificará numa cena carregada de emoção, daquelas em cuja concepção Puccini é um mestre.

Ato I

A multidão espera a execução do príncipe da Pérsia, o mais recente pretendente a falhar no teste de amor proposto pela princesa Turandot: quem não esclarecer os três enigmas morre. Em meio à confusão, uma jovem clama por ajuda para um velho que tropeça. Ao socorrê-lo, Calaf reconhece o pai, Timur, rei deposto da Tartária, e pergunta à jovem por que também arrisca a própria vida. Porque um dia o príncipe Calaf sorriu para ela, responde Liù. Turandot confirma a execução, com grande pompa. Arrebatado por sua beleza, Calaf resolve conquistá-la. Ping, Pang e Pong, os ministros do imperador, tentam dissuadi-lo afirmando que Turandot é como qualquer outra mulher. Calaf proclama que só ele a ama, e Liù implora que desista. Ele pede a Liù que cuide de seu pai e toca o gongo anunciando sua intenção.

 

Ato II

Ping, Pang e pong rememoram as execuções assistidas: 10 no ano do cachorro, 13 já neste ano do tigre. Trompetes anunciam a chegada de Turandot. Ela explica que sua crueldade e castidade vingam o sofrimento de uma antiga princesa chinesa. Avisa então ao anônimo pretendente que os enigmas são três, mas a morte é única. Calaf decifra os dois primeiros enigmas. Turandot expõe então o terceiro: “Gelo que arde, e com a tua chama ele te congela ainda mais; brilhante e sombrio, querendo libertar-te te escraviza ainda mais; aceitando-te como escravo, ele te faz rei.” Calaf responde: “Turandot”. Arrasada, a princesa implora ser liberada do compromisso. Querendo o seu amor, o príncipe “desconhecido” oferece uma saída: se ela descobrir seu nome até o alvorecer, ele aceitará morrer.

Ato III

Ninguém pode dormir em Pequim, mas Calaf está seguro de seu segredo. Os ministros advertem que Turandot massacrará a população se ele não for identificado. Calaf sofre ameaças de morte. Quando Turandot surge, Liù afirma que só ela sabe o nome do príncipe, mas nem sob tortura o revelará. Turandot pergunta a fonte de sua força. E ela responde: “Amor”, dizendo que a princesa também amará o príncipe. Pega, então, um punhal e se mata. Em meio à comoção geral, Calaf tira o véu de Turandot e a beija com paixão. Humilhada e derrotada, ela ordena-lhe que parta sem revelar seu nome. Mas ele diz que não tem interesse em manter o mistério e lhe oferece ao mesmo tempo o nome e a vida. Triunfant, Turandot volta-se para o imperador, os cortesãos e o povo e anuncia o nome do príncipe: Amor.


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