Tristão e Isolda

De Richard Wagner - Festival de Bayreuth

Ópera em três atos
Libreto: Richard Wagner
Maestro: Christian Thielemann
Diretor: Katharina Wagner
Cenografia: Frank Philipp Schlössmann, Matthias Lippert.
Figurinos: Thomas Kaiser
Cantada em alemão
Encenada pela primeira vez em 1865 no Teatro Nacional de Munique, Alemanha.
Duração: 4h08

Stephen Gould (Tristão)
Georg Zeppenfeld (Rei Marke)
Evelyn Herlitzius (Isolda)
Iain Paterson (Kurwenal)
Raimund Nolte (Melot)
Christa Mayer (Brangäne)

Morold, noivo de Isolda, filha do rei da Irlanda, é morto por Tristão, sobrinho do rei da Cornualha. Porém Tristão é ferido pela espada envenenada de Morold. Isolda, por sua vez, que é a única a dispor do antídoto, decide se vingar do homem que lhe roubou o seu grande amor. Tristão e Isolda, contudo, acabam por se apaixonar. Dividida entre o ódio, a vergonha de ser assim entregue ao vassalo de seu pai por aquele que matou seu noivo e ainda o amor impossível que ela nutre por Tristão, Isolda decide se unir a ele na morte.

Inspirada em parte pelo amor de Richard Wagner pela poetisa Mathilde Wesendonck, Tristão e Isolda representa a quintessência do drama romântico: o sofrimento, é claro, está presente, porém sem esquecer a luz trazida pelo prazer. O objetivo derradeiro é a perfeita unidade. Uma união de almas, certamente, mas sem ocultar o papel dos corpos.

Esta nova produção de Tristão e Isolda, levada ao palco por uma bisneta do compositor, Katharina Wagner, apresenta uma versão totalmente sombria, com os personagens encerrados nos seus próprios fantasmas, seus próprios mitos, seus próprios preconceitos. Desde o primeiro momento K. Wagner opta por um cenário de pesadelo para representar o navio no qual Tristão leva Isolda até o rei Marke e a bordo do qual será selada a união entre os destinos dos dois: cadafalsos e labirintos de degraus que nunca se encontram, passarelas que descem e sobem, como se para evitar que os heróis se reencontrem e satisfaçam sua paixão devoradora.

Em relação aos personagens, Katharina Wagner impõe escolhas fortes e imediatamente compreensíveis. Isolda quer seduzir Tristão. Ele, por sua vez, vai se deixar convencer. Eles não bebem a poção, mas a derramam no chão a partir do momento em que se sentem «tocados» e que seu amor recíproco lhes foi revelado. Ambos decidem que não têm necessidade de nenhum artifício. Eles se amam (primeira «traição» em relação ao libreto, mas magnificamente bem resolvida em cena e que acaba por fisgar o espectador). A paixão do casal se expressa na violência dos seus abraços e na maneira como o véu branco da noiva é destruído pelas mãos febris dos dois.

Enfim, Kurwenal e Brangane não nutrem nenhuma ilusão a respeito das intenções de seus respectivos senhores. Também para eles a questão se resume a lutar para impedir que os amantes se reúnam. Eles são, definitivamente, a encarnação de uma norma social, ainda um tanto benevolente já que mais próxima da conveniência e das aparências do que da reprovação e, sobretudo, da punição. Estas últimas são prerrogativas de Marke, vestido com um pavoroso traje amarelo, e que no segundo ato atira os dois amantes numa sala de tortura física e psicológica, na qual continuam a afirmar seu amor diante dos seus algozes. O fim também contradiz as interpretações habituais: nem arrependimento, nem a dor pelo rei, mas uma vingança fria e lágrimas oportunistas.

Stephen Gould é um Tristão imenso. Uma voz potente, à altura da sua estatura e da sua presença. Com uma dicção belamente projetada, por meio de agudos brilhantes ele deixa vibrar as harmonias contidas na sua voz. Em seus duos com Isolda, ele canta com determinação, porém sobretudo com ternura. Fôlego, clareza de emissão e inteligência no fraseado fazem de Stephen Gould um tenor wagneriano sólido, cujo estilo e cujas técnicas de respiração lhe permitem chegar ao fim do terceiro ato sem nenhum cansaço aparente. Expressivo também em termos dramáticos, ele faz com que o público sinta suas dúvidas, seu sofrimento ou sua derradeira alegria.

Como Isolda, Petra Lang mostra-se determinada a fazer brilhar seu temperamento, mas sempre com uma grande musicalidade. Ela canta com inteligência, sabendo até onde pode levar sua voz no brilho da coloratura de seus agudos ou na ternura de um duo encantador com Tristão. Suntuosa na revolta, sensual na sedução, sua voz com inflexões nuançadas segue suas intenções musicais. Sua voz é homogênea, com agudos sonoros, timbrados, nunca gritados. Petra Lang demonstra ainda que é uma grande wagneriana, não apenas por ser capaz de conduzir seu canto, como também por ser dotada de uma bela expressividade cênica.

Christian Thielemann, diretor musical de Bayreuth, sabe dosar com precisão as intervenções. Suntuosa, a orquestra respira, oscilando na intensidade entre piano e mezzo-forte, entre momentos intensos e mais serenos, ora se destacando em relação a um motivo, ou, ao contrário, produzindo um efeito massivo. Enfim, o coro dos marinheiros, muito bem posicionado nos bastidores, se faz ouvir em cada linha vocal segundo os diferentes grupos e, sobretudo, de modo com que cada palavra soe com uma precisão notável.

Ato I

No navio de Tristão, Isolda está furiosa. Eles se amam, mas Tristão é obrigado a ignorá-la enquanto a acompanha à Cornualha para casar com seu tio, o rei Marke. A criada de Isolda, Brangäne, apela para Tristão, cujo companheiro, Kurwenal, insiste que Tristão não está apaixonado por Isolda. A fúria de Isolda aumenta quando ela lembra que Tristão lhe deve a vida: ele chegara à Irlanda à beira da morte, ferido pelo noivo de Isolda, o lorde irlândes Morold, a quem matara. Ela tinha o deve de mata-lo, vingando Morold, mas o salvou. Com ideias suicidas, ela pede a Brangäne uma poção leta. Mas seu olha encontra o de Tristão. Ela busca vingança pela morte de Morold, e Tristão oferece sua espada e a convida a matá-lo. Em resposta, Isolda dá a Tristão uma bebida de “reconciliação”. Os dois bebem a poção. À espera da morte, abraçam-se apaixonados. Quando o navio atraca, Brangäne revela a Isolda que trocou a poção mortal por um elixir do amor. Desesperada Isolda desmaia.

 

Ato II

A noite cai no jardim do castelo da Cornualha e Brangäne adverte Isolda contra o “amigo” de Tristão, Melot, que está numa caçada com o rei Marke. Mas Isolda pede a Brangäne que acenda uma tocha, que chamará Tristão. Juntos, Tristão e Isolda anseiam por um esquecimento em que possam amar-se para sempre, distantes do mundo. Brangäne avisa que o dia está chegando. Tristão assegura a Isolda que seu amor é invencível, mesmo diante da Morte. Brangäne volta a adverti-los, os amantes anseiam por uma noite eterna. De volta da caçada, Marke, arrasado, encontra os amante; Melot é desmascarado como traidor. Tristão o desafia, mas abaixa a espada ao ser atingido por ele.

Ato III

Tristão, à beira da morte no castelo de sua família na Bretanha, é despertado pela música da flauta de um pastor. Kurwenal lhe garante que ficará curado em sua velha casa. Mas Tristão insiste que despertará num lugar misterioso, ansiando pela Morte. Kurwenal explica que Isolda foi chamada para curá-lo. Tristão sente o navio se aproximando, e a embarcação com Isolda de fato chega, lançando-o num delírio de felicidade. Entra Isolda. Tristão levanta-se e se aproxima dela, mas morre em seus braços. Num segundo navio chegam Marke, Melot e Brangäne, que falou a Marke da poção do amor. Kurwenal mata Melot. Marke lamenta-se, pois esperava que Tristão e Isolda se casassem. Mas Isolda não o ouve, arrebatada pelo amor que compartilhava com Tristão. Como que transportada, ela cai sobre o cadáver de Tristão. Marke abençoa os corpos dos amantes.


Compre aqui seu ingresso