Macbeth
De Giuseppe Verdi - Ópera do Estado de Berlim
Melodrama em 4 atos
Libreto de Francesco Maria Piave
A partir de Macbeth, de William Shakespeare
Cantado em italiano
Encenada pela primeira vez em 1847 no Teatro dela Pergola – Florença, Itália.
Duração: 3h
Maestro: Daniel Barenboim
Diretor: Harry Kupfer
Cenografia: Hans Schavernoch
Figurino: Yan Tax
Plácido Domingo (Macbeth)
Anna Netrebko (Lady Macbeth)
Kwangchul Youn (Banco)
Fabio Sartori (Macduff)
Florian Hoffmann (Malcom)
Depois de ter vencido uma batalha importante, o comandante Macbeth é informado sobre uma profecia segundo a qual um dia se tornará rei da Escócia. Influenciado por sua mulher, ele se mostra disposto a tudo – mesmo a cometer um assassinato – para que a profecia se cumpra. Porém, logo cairá vítima de seu próprio cinismo e de sua insaciável sede de poder.
Os contemporâneos da estreia desta ópera, sob a direção do próprio maestro Verdi (Scala, 1847), mostraram-se chocados com os traços exageradamente grosseiros da monstruosa Lady Macbeth e com a ausência deliberada de qualquer duo amoroso na obra. Isso se dá, contudo, justamente porque Verdi ama e sabe de cor seu Shakespeare: não há um segundo sequer ou qualquer aspecto do espetáculo que não extraia sua força da sua natureza trágica, sem qualquer concessão ou diluição. A arquitetura desta versão de Macbeth fulmina literalmente o espectador e poucas vezes a sordidez e o cinismo de um casal de políticos ambiciosos terão sido expostos de uma maneira tão impiedosa.
A principal força desta nova produção berlinense reside no esplêndido casal vocal Netrebko-Domingo, dotado do temperamento necessário para pincelar o retrato desse duo criminoso alucinado e sedento de poder.
Anna Netrebko, vestida de maneira imaculada (exceto na cena de loucura e sonambulismo do terceiro ato, em que aparece descalça e de cabelos desarrumados), mostra quanto o papel, sua personalidade, também sua tessitura, caem-lhe como uma luva. Com seus agudos estonteantes (sempre tão saborosos) e a amplitude da extensão de sua voz de loba feroz, ela se firma como uma fenomenal Lady Macbeth.
Plácido Domingo, na pele de um ditador abatido e covarde, exprime todas as nuances de uma loucura galopante. O tenor transformado em barítono se impõe, a exemplo de sua parceira, pelo seu talento dramático prodigioso. Sua voz é maviosa, serena, volumosa e muito expressiva. Seu fraseado, seu sentido de cor e uma técnica vocal fabulosa lhe permitem ter sucesso no papel, apesar de certas fragilidades relacionadas à sua idade. A destacar seu encadeamento final, no qual, com um fôlego que parece infinito, ele afirma sua têmpera de déspota cínico, perturbador e perfeitamente abjeto.
Netrebko/Domingo compõem um dos mais belos casais verdianos da atualidade, de uma intensidade elétrica ; ele, encarnando um homem sem vontade própria e destruído, e ela, como um demônio feroz, que o repreende por sua flagrante covardia.
A direção bastante eficiente de Harry Kupfer situa a ação num mundo moderno e parece evocar, por seus trajes, as ditaduras sul-americanas do século XX, tendo como pano de fundo guerras e cidades incendiadas. Desde o início, Lady Macbeth entra em cena como a personificação do Diabo : um bebê morto num braço, uma espada na outra mão, ela vaga em meio a uma paisagem desolada, na qual jazem por terra os cadáveres de suas vítimas. A troca entre o interior (o salão dos Macbeth) e o exterior (paisagens industriais num fim de mundo) se dá graças a um novo equipamento cênico com o uso de plataformas móveis.
O desempenho do coro da Ópera do Estado de Berlim é impecável, sobretudo na cena de sonambulismo com uma Lady Macbeth alquebrada, desconstruída a partir desse momento, assombrada por visões de pesadelos, atormentada, uma mulher que agoniza ao se ver enfim atingida por seus atos imperdoáveis e também no belíssimo coro “patria opressa”, que exprime o sofrimento popular, fazendo eco àquele dos carrascos.
Maestro apurado, vigoroso e eficiente, Daniel Barenboim carrega o fôlego épico e fantástico desse conto shakesperiano com uma Staatskapelle Berlin particularmente fascinante pelos seus piani e por seu grande refinamento.
Ato I
Bruxas preveem que Macbeth se tornará chefe da aldeia de Cawdor e rei da Escócia, e que Banco gerará futuros reis. Quando Macbeth é nomeado chefe de Cawdor, Lady Macbeth põe em ação a profecia sobre o trono da Escócia. Quando o rei Duncan dorme em seu castelo, ela força o relutante marido a matá-lo. Macduff vai despertar Duncan e o encontra assassinado.
Ato II
Feito rei, Macbeth decide que Banco e os filhos devem morrer. Banco é morto, mas seu filho escapa. O fantasma de Banco aparece num banquete, e Macbeth entra em pânico, apontando o espectro que só ele vê. Sua mulher tenta distrair os convidados, mas Macduff decide fugir para a Inglaterra.
Ato III
As bruxas garantem a Macbeth que “nenhum homem nascido de mulher” poderá prejudicá-lo, enquanto a outra aparição lhe diz que ele estará a salvo até que a floresta de Birnam se mova em sua direção. Alarmado com a visão de outros reis passando à sua frente, o último deles com a aparência de Banco, Macbeth decide matar o filho de Banco, assim como a mulher e os filhos de Macduff.
Ato IV
Enquanto McDuff planeja vingança, Lady Macbeth, sonâmbula, imagina sangue nas próprias mãos. Macbeth vê a floresta de Birman se aproximar, mas proclama que “nenhum homem nascido de mulher” pode lhe fazer mal”. Macduff retruca que foi “arrancado” do útero da mãe e mata Macbeth.