Don Pasquale
De Gaetano Donizetti - Teatro alla Scala de Milão
Ópera-buffa em três atos
Libreto de Giovanni Ruffini
Encenada pela primeira vez em 1840, Ópera Nacional de Paris – França
Duração: 2h05
Maestro: Riccardo Chailly
Diretor: Davide Livermore
Figurinos: Gianluca Falaschi
Orquestra e coro do Teatro alla Scala de Milão
Ambrogio Maestri (Don Pasquale)
Rosa Feola (Norina)
René Barbera (Ernesto)
Mattia Olivieri (Malatesta)
Don Pasquale prefere deserdar o sobrinho Ernesto a vê-lo casado com Norina, a quem considera “inadequada”. Decide então ele mesmo se casar, de modo a ter seus próprios herdeiros. O dr. Malatesta propõe que ele se case com sua irmã, que vem a ser ninguém menos do que aquela por quem Ernesto está apaixonado, Norina, disfarçada como uma jovem tímida, saída de um convento. Logo a jovem se revela uma autêntica megera, a ponto de Don Pasquale se arrepender de sua decisão.
Composta por Donizetti quando se tornou diretor musical na corte do imperador Fernando I, da Áustria, Don Pasquale toma como modelo a comedia dell’arte e seus personagens típicos: Don Pasquale é o Pantalone, o velho destinado a ser enganado; Norina é a Colombina, a jovem cobiçada pelo velho; dr. Malatesta corresponde a Scapino, o intrigante; Ernesto nos faz lembrar de Pierrot, o apaixonado tímido. No entanto, a obra de Donizetti é tudo menos uma comédia de máscaras: os personagens são bem elaborados, com perfis psicológicos equilibrados, e sua música frequentemente põe em questão sua própria situação no gênero da comédia bufa.
Tudo isso foi compreendido e destacado de forma inteligente pelo diretor Davide Livermore, que se apoia em referências cinematográficas tomadas de empréstimo à Dolce vita e à época do apogeu dos estúdios da Cinecittà: nela encontramos, entre outras coisas, a lambreta do filme Roman holiday (1953) e o carro esporte conversível de Il sorpaso (1962). Recorrendo à técnica irrepreensível dos videomakers da D-wok e aos fantásticos figurinos de Gianluca Falaschi, o espetáculo destila uma atmosfera felliniana em preto e branco. O palácio de aspecto severo de Don Pasquale, assim como todos os monumentos em cena, surge cercado por andaimes. Chamam a atenção, em particular, os planos de fundo em que aparecem a estação ferroviária, animada pela movimentação de passageiros, e a paisagem dos gasômetros na cena final. Outra ideia exuberante: o retrato da mãe de Don Pasquale, que costuma comentar por meio de caretas o que se passa em cena, prosseguindo com suas ingerências – post-mortem – na vida do filho.
O refinamento bastante expressivo da escrita vocal de Donizetti para essa ópera só pode ser plenamente apreciado quando apoiado na performance de intérpretes de altíssimo nível. A estreia em Paris, em 1843, pôs em cena quatro dos maiores cantores do século XIX: Giulia Grisi, Giovanni Mario, Antonio Tamburini e Luigi Lablache.
Esta nova montagem – repleta de boas ideias – conta ainda com excelentes desempenhos por parte dos cantores. No papel-título, Ambrogio Maestri interpreta com empatia e delicadeza todas as nuances do estado de espírito do personagem: o momento de abandono ingênuo, a humilhação, o desespero e a decepção quando – devido ao seu peso e à sua corpulência – ele fica preso ao solo no seu assento durante a corrida, enquanto os outros planam nas alturas nas notas de euforia do rondó final.
Rose Feola é uma Norina excepcionalmente elegante – com um registro extremamente luminoso e uma verve extraordinária por ocasião do desfile de moda – quando recorre à mímica ao mostrar as atitudes fingidas que precisa assumir para conquistar Don Pasquale.
Ernesto, desempregado, tendo sempre em mãos o jornal para apostar nas corridas de cavalos, encontra em René Barbera um intérprete plenamente convincente nas variações e acrobacias vocais, nas quais emite com grande segurança suas notas altas. Mostra-se comovente, sobretudo, na ária pungente do segundo ato, excepcionalmente acompanhada por um solo de trompete.
Mattia Olivieri, como Malatesta, alia os excelentes desempenhos vocais a uma notável presença em cena nos vários momentos cômicos da ópera.
O regente Riccardo Chailly põe em relevo os momentos melancólicos da partitura com sons transparentes, obtidos ao usar com parcimônia os recursos da orquestra do teatro. A excelente performance foi acolhida pelo público do La Scala com dez minutos contínuos de aplausos dedicados aos músicos e a todos os artistas.
Ato I
O velho Don Pasquale quer uma noiva. Julgando-o gagá, seu amigo Malatesta oferece sua “irmã”, que segundo ele acaba de deixar o convento. Encantado, Don Pasquale proíbe seu sobrinho, Ernesto, de casar com a bela viúva Norina, deixando-o inconsolável. Malatesta convence Norina a se casar com Don Pasquale disfarçada de Sofronia, para conquistar Ernesto.
Ato II
Assinado o contrato de casamento, a tímida noiva de Don Pasquale se transforma em esposa mandona e espalhafatosa. Ernesto sabe da trama de Malatesta e de novo confia no amor de Norina. Don Pasquale vê que cometeu um terrível erro.
Ato III
Don Pasquale fica chocado ao ver “Sofronia” sair para o teatro sozinha. Eles discutem, e ela bate nele, que se convence de que é hora de fugir do casamento. Norina deixa cair um bilhete supostamente de Ernesto. Don Pasquale convoca Malatesta para ajudá-lo. Ernesto faz uma serenata a Norina quando Don Pasquale vem expulsar “Sofronia”. Malatesta anuncia que logo chegará uma nova esposa: Norina. Como “Sofronia” protesta, até Don Pasquale concorda com o casamento do sobrinho. Por fim, entendendo que foi enganado, Don Pasquale perdoa a todos.