Carmen

De Georges Bizet - Teatro da Ópera de Roma/Caracalla

Ópera cômica em quatro atos
Libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy
Inspirado na novela de Prosper Mérimée
Cantada em francês
Encenada pela primeira vez em 1875, Opéra-Comique – Paris – França.
Duração: 2h40

Maestro: Jesús López-Cobos

Diretora: Valentina Carrasco
Figurino: Luis Carvalho
Orquestra, Coro e Corpo de Baile do Teatro da Ópera de Roma

Veronica Simeoni (Carmen)
Roberto Aronica (Don José)
Rosa Feola (Micaela)
Alexander Vinogradov (Escamillo)
Alessio Verna (Dancairo)
Daniela Cappiello (Frasquita)
Anna Pennisi (Mercedes)

O tradicional drama passional entre a cigana Carmen e o soldado Don José é aqui
apresentado no contexto da crise em torno da questão da imigração na América do
Norte e se desenrola na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Enfaticamente
contemporânea, nem por isso essa produção deixa de respeitar fielmente a partitura
original.

Interpretada ao ar livre em meio às sublimes ruínas do século III das Termas de
Caracalla (Roma), essa produção engajada, corajosa e colorida apresenta uma
montagem de tirar o fôlego concebida pela diretora argentina Valentina Carrasco. Ela
optou por revisitar a obra tragicômica de Bizet no contexto da crise da imigração americana. A ação se desenvolve no México e nos Estados Unidos, precisamente na fronteira que separa os dois países.

Entre prostitutas transexuais, traficantes e trabalhadores imigrados, o espetáculo tem
início com as crianças sendo arrancadas dos pais por agentes do ICE e todo o resto da
ação prossegue no contexto tenso e violento que marca a relação atual entre os dois
países. As temáticas candentes da xenofobia, do movimento #MeToo, do poder das
mulheres e da violência doméstica são abordadas abertamente e tudo isso sem que
tenha sido alterada uma única palavra ou nota da partitura original. No meio do
espetáculo, Carmen, num gesto de desafio, chega a rasgar a bandeira americana.

“Esta produção de Carmen está inteiramente apoiada na realidade”, declara Carrasco,
“cheguei mesmo a acrescentar em cima da hora fatos mais recentes relativos às
crianças separadas dos pais. Mas permaneci fiel à peça, fazendo apenas com que o
contexto fosse inteiramente diferente”. Ela explica: “Por toda parte na Europa,
prevalece a tendência de modernizar os clássicos. É uma abordagem adotada por
muitos diretores nos dias de hoje, porém, às vezes as coisas parecem um pouco
forçadas, impondo um contexto que não funciona, o que representa um problema”.

Pode-se dizer que essa nova produção não cai de modo algum nessa armadilha. Muito
ao contrário, a peça original acaba sendo valorizada pela perspectiva contemporânea
adotada por Carrasco, ganhando dessa forma maior relevância.

São admiráveis tanto os recursos dramáticos como a performance vocal da mezzo-
soprano italiana Veronica Simeoni, que sobressai com desembraraço e naturalidade no
papel da bela boêmia já desde a Habanera, no primeiro ato. Ela interpreta as grandes
árias com uma voz maleável e perfeitamente equilibrada para fazer face às
dificuldades do papel. Nas inúmeras árias do primeiro ato, ela atinge o ponto alto de
seu desempenho brilhante ao se exibir andando sobre as costas de três bailarinos,
como se subisse uma escada.

Com Carmen, criada em março de 1875, Bizet apresentou uma visão muito moderna e
sem filtros dos traficantes, das prostitutas, do feminismo e do sexo, que provocou
escândalo na época, chocando a burguesia e a crítica. Vivendo na pobreza, o
compositor morreu na noite da 33ª apresentação de Carmen, quando tinha apenas 36
anos. Esta impetuosa versão de sua obra, montada mais de 140 anos depois da sua
estreia, é uma bela homenagem à sua audácia e à sua coragem.

Ato I
Na praça cheia de soldados, uma camponesa procura em vão o cabo Don José. Ele
chega depois, adivinhando que a jovem é Micaela. Enquanto isso, o capitão Zuniga,
recém-chegado de Sevilha, fica sabendo que centenas de mulheres trabalham na
fábrica de cigarros. Ao toque de um sino, elas saem ruidosamente, enquanto Carmen
canta o amor livre. Ela atira uma flor para Don José. Micaela entrega uma carta que é
lida em voz alta por Don José. Sua mãe diz que é hora de casar e sugere que tome
Micaela como noiva. De repente, uma briga irrompe na fábrica, e Carmen é acusada.
Zuniga ordena que ela tenha as mãos atadas, e ela flerta com Don José, propondo um
encontro e convencendo-o a soltar-lhe as amarras. Ao ser conduzida para fora dali, ela
foge.

Ato II
Dois meses depois, Carmen entretém oficiais numa taberna e descobre que Don José
cumpriu pena de prisão por tê-la libertado. Chega Escamillo, o toureiro, apregoando
seus feitos. Ele tenta conquistar Carmen, mas ela o rechaça. Quando o local esvazia,
contrabandistas buscam ajuda para enganar os guardas na fronteira. Carmen se
recusa, dizendo-se apaixonada. Chega Don José, e ela dança para ele. Mas ele ouve
cornetas convocando-o de volta ao quartel, e ela zomba dele. Para provar seu amor,
ele mostra a flor que ela lhe atirou. Zuniga vem cortejar Carmen e é desarmado. Don
José se dá conta de que deve fugir.

Ato III
No esconderijo dos contrabandistas, Carmen já perde o interesse por Don José. As
ciganas leem a sorte nas cartas; preveem as mortes de Carmen e Don José. Ele fica
montando guarda. Ali perto, Micaela reúne coragem para entrar no acampamento.
Aparece Escamillo, em busca de Carmen. Don José o desafia. O toureiro de início se sai
melhor, mas tomba. Carmen salva sua vida, e ele a convida para sua próxima tourada.
Don José fica furioso, mas, informado por Micaela de que sua mãe está morrendo,
parte, jurando voltar a encontrar Carmen.

Ato IV
Em frente à praça de touros, crianças saúdam Escamillo, acompanhado por Carmen.
Ela é advertida pelas amigas de que Don José também está presente. Ao encontrá-la,
Don José implora que volte para ele, insistindo que a ama. Ela o rejeita, declarando
que nasceu livre. Ele a apunhala. Quando surge o triunfante Escamillo, Don José
confessa em prantos ter matado sua amada Carmen.


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