Andrea Chénier
De Umberto Giordano - Teatro alla Scala de Milão
Drama histórico em quatro atos
Libreto de Luigi Illica
Cantada em italiano
Encenada pela primeira vez em 1896 no Teatro alla Scala de Milão, Itália.
Duração 2h
Maestro: Riccardo Chailly
Diretor: Mario Martone
Figurino: Ursula Patzak
Coreografia: Daniela Schiavone
Coro, balé e orquestra do Teatro alla Scala
Yusif Eyvazov (Andrea Chénier)
Luca Salsi (Carlo Gérard)
Anna Netrebko (Maddalena di Coigny)
Annalisa Stroppa (Bersi)
Mariana Pentcheva (Comtesse de Coigny)
Durante o período do terror na Revolução Francesa, o tribunal revolucionário condena
à morte o poeta Andrea Chénier. Este, contudo, decide não fugir, pois precisa
descobrir quem está por trás das cartas que o denunciaram.
Andrea Chénier, ópera «verista» em quatro atos do compositor Umberto Giordano
(1867-1948), teve seu libreto livremente inspirado na vida do poeta francês André
Chénier (1762-1794). Depois de ter participado ativamente na revolução, Chénier se
mostra cada vez mais crítico em relação ao Comitê de Salvação Pública, que governou
o país durante o período conhecido como o Terror (1793-94). Ele acabaria preso, tendo
sido decapitado em Paris em 1794, apenas três dias antes da execução de Robespierre.
O libreto, cuja trama abrange o período que vai do início da revolução ao reino do
Terror, é de tirar o fôlego, num ritmo que não deixa de ter certa afinidade com o dos
roteiros cinematográficos dos nossos dias.
A partitura de Andrea Chénier, que evoca a Paris revolucionária e suas canções («Ça
ira», «La Carmagnole») é coerente, tem um ritmo interno e inclui árias para tenor e
soprano de imenso melodismo, entre as quais «La mamma morta», cantada por
Maddalena, e o duo final «Vicino a te», que costumam ser apresentadas em recitais.
A direção realista de Mario Martone é engenhosa, com o uso inclusive de uma grande
plataforma giratória, graças à qual as mudanças podem ser feitas em cena. Ela põe em
relevo a melancolia da revolução, cujos ideais acabam submersos em meio à crueldade
e ao terror. Destaque para a bela ideia dos quadros nos quais se fixam os coros, assim
como a sala dos espelhos barrocos nos quais os personagens se refletem em imagens
distorcidas. Sem esquecer os suntuosos figurinos de Ursula Patzak.
O tenor Yusif Eyvazov, do Azerbaijão, é um excelente Chénier, com uma pronúncia
perfeita e uma linha de canto graciosa, de bom gosto e sempre rica em nuances. Um
excelente fraseado, inserido num contexto mais amplo de uma musicalidade evidente
e exata («Un dì all’azzurro spazio» está entre as melhores possíveis). Ele encarna à
perfeição esse personagem sonhador e idealista.
Anna Netrebko está convincente no papel de Maddalena, interpretado por ela pela
primeira vez por ocasião dessa estreia no Scala. A voz da soprano russa vem se
tornando cada vez mais lírica e homogênea, sendo capaz de lançar agudos
penetrantes.
Luca Salsi, um dos barítonos mais interessantes da cena musical de hoje, interpreta um
Gérard raivoso e implacável. Sua voz atinge seu ápice no monólogo a respeito dos
inimigos da pátria.
Chailly, que celebrará em 2018 seus 40 anos de colaboração com o Scala, conhece
perfeitamente a partitura – ele dirigiu Andrea Chénier nesse mesmo teatro em 1985.
Sua interpretação sinfônica enfatiza o virtuosismo orquestral do compositor. Ele
concede um tratamento meticuloso ao papel do tenor Yusif Eyvazov, que rende mais
nas notas altas, mas ele sabe equilibrar sua voz para torná-la expressiva nos trechos
mais líricos, provando que ele é indicado para esse repertório no qual a música busca
um efeito imediato, mais do que evocar introspecção psicológica ou insinuações
elegantes.
Ato I
Antes de uma festa no castelo de Coigny, um dos empregados, Gérard, amaldiçoa
aquela ˜cada dourada”. Sua raiva some ao ver Maddalena, filha da condessa. Os
convidados ignoram as novas de agitação em Paris. O poeta Chénier dedica a
Maddalena uma ode ao amor, mas os convidados se chocam quando ele denuncia a
pobreza. Gérard volta com um bando de mendigos, rasga seu uniforme, e se demite. A
condessa pede que a dança recomece.
Ato II
Cinco anos depois, num café de Paris, Chénier é observado por um espião, Incredibile.
Seu amigo Roucher o insta a fugir, mas o poeta se recusa, dizendo esperar uma mulher
misteriosa que se diz em perigo e assina suas cartaz como “Esperança”. Gérard, agora
um revolucionário, busca a mesma mulher. Uma criada leva Chénier à amante,
Maddalena. Reconhecendo-a, Chénier se apaixona e jura protegê-la com a própria
vida. Convocado pelo espião, Gérard chega e é ferido em luta contra Chénier, mas
adverte que ele está sendo procurado como contrarrevolucionário.
Ato III
Num tribunal revolucionário, Gérard pede doações para a França enfrentar os
inimigos. A multidão canta “La Carmagnole”, e Incredibile informa a captura de
Chénier, exortando Gérard a assinar a condenação do poeta. Ele hesita, envergonhado
por se ver dominado pelo ódio e o amor, mas assina. Maddalena lhe implora que salve
Chénier. Gérard evoca amor por ela, que oferece o corpo em troca da vida de Chénier.
Gérard se come quando ela relata a morte da mãe numa fogueira acesa pelos
revolucionários. Em seu julgamento, Chénier defende a luta contra a hipocrisia, e até
Gérard se pronuncia em seu favor, mas o juiz o condena à morte.
Ato IV
Chénier escreve um derradeiro poema e Gérard chega com Maddalena, que toma o
lugar de uma condenada. Sozinhos, Chénier e Maddalena se abraçam, jurando amor
eterno. Chamados para a execução, proclama: “Aceitamos juntos a morte!”.