Don Giovanni

Direção: Jean-François Sivadier

Exclusivo
  • Don Giovanni – Festival d’Aix-en-Provence 2017 © Pascal Victor / ArtcomPres

Festival de Aix en Provence

Drama giocoso em dois atos de Wolfgang Amadeus Mozart

Libreto de Lorenzo da Ponte

Cantada em italiano

Festival Aix en Provence

Duração: 3h10 com um intervalo

Maestro JEREMIE RHORER

Diretor JEAN-FRANÇOIS SIVADIER

Figurino VIRGINIE GERVAISE

Orquestra Le Cercle de l’Harmonie

Classificação indicativa: 12 anos

 

Projeção gratuita Festival Aix en Provence

Em parceria com a Fondation Orange

PHILIPPE SLY: Don Giovanni

NAHUEL DI PIERRO: Leporello

ELEONORA BURATTO: Donna Anna

PAVOL BRESLIK: Don Ottavio

ISABEL LEONARD: Donna Elvira

JULIE FUCHS: Zerlina

KRZYSZTOF BACZYK: Masetto

DAVID LEIGH: O comendador

Don Giovanni, sedutor libertino, ajudado por seu criado e cúmplice Leporello, realiza muitas conquistas femininas, depois as abandona. Ele chega a forçar Donna Anna e a matar O Comendador, pai dela, num duelo. Para escapar da ira dos seus números perseguidores, Don Giovanni obriga seu criado a se travestir para trocarem de identidade, mas ele terá que responder por seus atos diante do fantasma do Comendador.

Encomendada pela Ópera de Praga em 1787, Don Giovanni é a segunda das três óperas que Mozart compôs de um libreto de Lorenzo da Ponte. Ela retoma o mito do sedutor punido, mito surgido no contexto do Barroco espanhol. Esse tema teve, no fim do século XVIII, um grande sucesso e seu herói, com sua sensualidade demoníaca, surgia aos olhos do público da época como uma encarnação viva do seu protesto contra a antiga concepção da vida. A particularidade de Don Giovanni é ter um pé no Antigo Regime e outro no romantismo antiracionalista. No plano musical, essa transição também é muito sensível. Mozart recapitula as fórmulas da ópera do passado e inventa as do drama musical moderno.

Don Juan foi tanto caracterizado como viciado em sexo, campeão da liberdade ou « grande senhor homem mau ». De todas as manifestações desse mito, a ópera de Mozart surge como a mais atemporal, pois ela põe em conflito o riso ao terror e a comédia alegre à fábula metafísica. Desde a abertura da ópera buffa na qual a terrível grandeza da música do Commendatore se transforma em corrida descabelada do sedutor, o contraste reina como mestre. E o libertino dança acima do precipício.

A energia de uma distribuição jovem, animada pela direção de Jean-François Sivadier e a regência de Jérémie Rhorer, fazem dessa nova produção uma festa fulgurante da sedução e do desejo. A ação se passa num palco com bastidores visíveis, inicialmente ocupado por atores fingindo que não estão atuando, e que entram aos poucos no espetáculo, vestindo-se com magníficos figurinos que evocam a Espanha de Goya, que vão tirando depois aos poucos.

O resultado é fascinante e Don Giovanni acolhe maravilhosamente um tratamento que permite deslizar de uma cena a outra, fazendo uma oportuna cortina descer ou acendendo uma iluminação mágica. O libreto de Da Ponte é objeto de uma leitura bastante requintada e a proposta é servida com uma energia constante, uma vitalidade que não se desmente nem um instante, com uma distribuição de cantores, cada um tão jovem e brilhante quanto o outro.

Com roupa de majo ou num nu quase integral, Philippe Sly é um Don Giovanni em permanente sedução, fisicamente e musicalmente, brincando com as nuanças elegantes de uma voz de veludo em semitons insinuantes. Sua silhueta longilínea e angelical avança com passos leves de um grande felino. Sua serenata é de tirar o fôlego de tanta sensualidade, seu grito final parece arrancado do seu corpo e, depois de uma morte estranhamente crística, ele é tomado por uma dança frenética que leva a imaginar um eterno recomeço.

Nahuel di Pierro literalmente estoura em Leporello, suscitando o riso com suas caretas e gestos leves, criado unido ao seu mestre por uma cumplicidade evidente, e dotado de um timbre perfeitamente diferenciado.
O casal Donna Anna-Don Ottavio sofre com outras tensões. A soprano italiana Eleonora Buratto dá à filha do Commendatore a nobreza de uma Fedra de Racine. Seu timbre é pungente e tem raios de luz crua em marcantes trocas de registros emocionais. O Don Ottavio do tenor eslovaco Pavol Breslik se instala progressivamente em seu papel cavalheiresco e cortês, a serviço do amor da dama. Se o libreto o quer inicialmente meio fraco, álgido e simbiótico, durante suas duas magníficas árias o cantor deixa prever toda sua nobreza da alma e sua solidez, sob o veludo e o comedimento envolvente do seu vocal.

Krzysztof Baczyk (Maseto) e Julie Fuchs (Zerlina), ambos artistas da Academia do Festival, formam um casal bem adequado. Zerlina está no lugar certo em seu papel de esposa e mulher livre, sensível aos jogos de sedução. Seu timbre é reluzente e leve, mas controlado por um legato necessário. Masetto, com seu porte de urso, apresenta uma emissão perfeitamente calibrada, na reprovação, na ira e no perdão inevitavelmente dado à sua amada.

A amante ultrajada Dona Elvira é a mezzo-soprano Isabel Leonard, que consegue se tornar irreconhecível, na voz, no físico e no papel entre o primeiro e o segundo ato. Como se o dramma giocoso fosse repetido sem parar, ela mobiliza todos os seus registros e suas modulações para conseguir atrair para ela e envolver o corpo de Don Giovanni nas redes do seu vibrato implorador.

O maestro Jérémie Rhorer é flexivel e versátil, ele tem a corda sedosa e o fagote brincalhão, e evita os andamentos excessivos que esticariam demais o discurso ou que deixaria os cantores em dificuldade. O Cercle de l’Harmonie, com a cumplicidade dos coristas de English Voices, oferece um vigor de acentos inesperado a mais de uma página, como nas núpcias do primeiro ato, aqui livre de qualquer gentileza simplória mas carregada de ardores primaveris.

Ato I

Leporello espera enquanto o patrão, Don Giovanni, seduz mais uma mulher. Perseguido por Ana, Don Giovanni sai correndo, mascarado, e é desafiado pelo pai dela, o Comendador. Ana foge, e o Comendador é morto. Ela encontra o corpo e exige que Otávio, seu noivo, a vingue. Elvira lamenta seu amor por Don Giovanni, dizendo que ele a seduziu prometendo casamento. Don Giovanni se afasta impaciente e Leporello enumera as conquistas do patrão. Don Giovanni se interessa por Zerlina e convida seu noivo, Masetto, para uma festa em sua mansão. Sozinho com Zerlina, começa a flertar. Elvira adverte Zerlina sobre o dissoluto. Ana já tem certeza de que era Don Giovanni o assassino mascarado do pai, enquanto Otávio jura descobrir a verdade. Leporello relata que Elvira atrapalhou a festa, mas Don Giovanni só pensa em novas conquistas. Quando Elvira, Ana e Otávio chegam mascarados, Don Giovani sai com Zerlina, mas ela grita pedindo ajuda. Don Giovanni encontra Otávio empunhando uma pistola. O trio tira as máscaras e o ameaça. Mesmo abalado, Don Giovanni mantém a atitude desafiadora.

Ato II

Don Giovanni troca de roupas com Leporello para seduzir a criada de Elvira. Esta ouve Don Giovanni pedir perdão e quer acreditar. Leporello, com as roupas do patrão, abraça Elvira, enquanto Don Giovanni, vestido como o criado, faz serenata para a serviçal dela. Masseto chega em busca de Don Giovanni e leva um soco de “Leporello”. Quando “Don Giovanni” foge de Elvira, é visto por Ana e Otávio e imediatamente revela ser Leporello. Otávio jura matar Don Giovanni. Mas Elvira ainda ama o nobre. No cemitério, Don Giovanni graceja sobre uma mulher que o confundiu com Leporello. De repente, ouve-se uma voz advertindo que seu riso logo terá fim. Vendo a estátua do Comendador, Don Giovanni zomba da ameaça. Leporello convida a estátua a jantar com o patrão, e ela assente. Imperturbável, Don Giovanni reúne músicos para o jantar. Elvira chega mas é insultada; ao sair, ela grita. Surge a estátua do Comendador. Don Giovanni lhe oferece jantar, mas a estátua por sua vez o convida a jantar consigo. Leporello implora ao patrão que recuse, mas ele aceita. Apertando a mão do nobre, a estátua exige: “Arrepende-te!” “Não!” Num derradeiro grito. Don Giovanni é tragado pelas chamas. Seus inimigos chegam e, felizes por Don Giovanni ter enfim pagado por seus pecados, decidem recomeçar a vida.