ORFEU E EURÍDICE

De Christoph Willibald Gluck - Teatro Alla Scala de Milão

Exclusivo

Drama em três atos
Cantado em francês
Libreto de Pierre Louis Moline, com base no libreto original de Ranieri de’ Calzabigi
Encenado pela primeira vez em 1762 no Burgtheater de Viena.
Encenado pela primeira vez na versão francesa no Teatro alla Scala.
Duração 2h09

Maestro: Michele Mariotti
Diretores: Hofesh Shechter e John Fulljames
Coreografia: Hofesh Shechter/Hofesh Shechter Company
Coro e orquestra do Teatro alla Scala
Cenografia e figurinos: Conor Murphy
Produção da Royal Opera House, Covent Garden, Londres

Juan Diego Flórez (Orfeu)
Christiane Karg (Eurídice)
Fatma Said (Amor)

Orfeu chora a morte de sua esposa, Eurídice, e decide pôr fim à vida ao ficar sabendo, por Amor, que Júpiter, comovido pela sua dor, permite que ele vá buscar Eurídice no Inferno, impondo como única condição a promessa de não se virar para trás e olhar sua mulher enquanto faz o caminho de volta.

Existem pelo menos quatro versões de Orfeu e Eurídice, de Christoph Willibald Gluck, nas quais o papel de Orfeu é nos dias de hoje interpretado basicamente por uma soprano ou mezzosoprano. Apenas na versão de Orfeu e Eurídice de 1774, composta para a Ópera de Paris, o papel de Orfeu fica a cargo de um tenor.

Esta versão francesa, ao reservar um espaço importante para o balé, propõe um espetáculo afinado com a vontade original do compositor ao aliar os dois – o canto e a dança. Os dois? Não apenas os dois. A presença em cena da orquestra como elemento central – ora imponente, ora discreta – marca a tessitura fundamental dessa produção, na qual coro, orquestra, corpo de baile e solistas compartilham o mesmo espaço. Uma espécie de Gesamtkunstwerk – obra de arte total – como queria Gluck, apresentada pela primeira vez no la Scalla.

O balé não é aqui um elemento decorativo, mas – ao contrário – está inserido na dramaturgia, fazendo da coreografia um elemento de sugestão, passível de ser interpretado de acordo com a cena, ora como almas do Inferno vagamente assustadoras, ora como metáfora agitada da alma de Orfeu, ora como projeções corporais da música.

O personagem Amor, interpretado pela jovem Fatma Said, é revigorante, com uma dicção francesa impecável, um fraseado preciso e uma bela projeção. A voz é clara e jovem; a expressão, bastante eficaz. Percebe-se em Fatma Said uma espécie de brutalidade jovial que compõe uma personalidade autêntica.

Christiane Karg, como Eurídice, é dona de uma voz a um só tempo controlada e muito expressiva. Ela nada tem de sombra, mostrando-se uma mulher mais do que viva, com suas esperanças, suas decepções e também seu desejo. O tom utilizado por ela é bem diferente daquele ao qual estamos habituados, sendo mais animado, bem mais próximo de nós, o que torna este Gluck surpreendentemente moderno.

Juan Diego Flórez é, evidentemente, a atração principal do elenco. Seu francês é perfeito e o fraseado, irretocável; a colocação da voz e sua emissão são divinas, a projeção é irrepreensível, transmitindo – sobretudo – um sentido nato de musicalidade. Nada parece se originar da performance em si, sendo antes resultado de um trabalho intenso a respeito do controle, do sentido, da expressão. A ária J’ai perdu mon Eurydyce é cantada com uma extrema simplicidade, de modo a fazer sentir toda a dor sem recorrer a ornamentos de qualquer tipo, com uma ternura extraordinária. Um resultado realmente prodigioso, porque pleno de sentimento e – sobretudo – sem exageros quanto à demonstração.

Vale ressaltar também o belo trabalho do coral preparado por Bruno Casoni, bastante homogêneo e investindo grande esforço quanto à dicção e à clareza.

Na regência, Michele Mariotti dirige a obra de Gluck pela primeira vez e numa posição difícil, com o som da orquestra variando de acordo com o local onde se encontra, ora no alto, ora abaixo do nível do palco. O jovem maestro aborda Gluck sem jamais suscitar o tédio devido à maneira como consegue tornar mais leve a massa sonora da orquestra ou mostrar-se suave nos momentos dramáticos, sem nunca encobrir as vozes dos cantores, sem se impor de modo forçado, sem deixar ao mesmo tempo de estar presente e de ser elegante, sabendo jogar com as cores e os timbres. O conjunto se mantém dinâmico e fluente. Uma intervenção de altíssimo nível!

Ato I
Orfeu chora a morte de Eurídice junto a seus companheiros. Então entra Amor, esse personagem misterioso, personificação de um sentimento tão controverso em forma humana. Amor anuncia que Orfeu alcançou a piedade de Zeus, e terá a permissão para entrar no reino dos mortos para buscar sua amada, enfrentando as fúrias e espectros do inferno com sua música, com a condição de não olhar para ela antes de atravessar o Stix, o rio que separa o reino dos vivos do reino dos mortos na mitologia grega. Esta condição representa um desafio mortal, pois se Orfeu não suportar ficar sem vê-la, ou tentar explicar porque não pode fazê-lo, ela morrerá imediatamente. Decidido a buscá-la, Orfeu parte para o mundo das trevas.

Ato II
Orfeu entra no inferno, ameaçado pelas fúrias e espectros de Hades, que revoltam-se com a entrada de um mortal, incitando Cérbero, o monstruoso cão de três cabeças que guarda o mundo dos mortos. Orfeu toca sua harpa misteriosa e canta para acalmar as almas perdidas, para que permitam que ele atravesse o Hades em direção ao Elísio. As fúrias perseguem Orfeu, e respondem com um sonoro “Não!” aos seus apelos. Mas aos poucos a música de Orfeu vai dominando os espectros e fúrias, que permitem que ele atravesse o mundo das trevas em direção ao Elísio, o Vale dos Bem-Aventurados. Ao chegar lá, Orfeu fica maravilhado com a beleza do vale, cantando a ária “Che puro ciel”, acompanhado com doçura por um trio de instrumentos solistas: violoncelo, flauta e oboé. Em seguida o coro das almas abençoadas entoa um canto de louvor seguido do famoso solo de flauta na Pantomima, quando Eurídice surge novamente. Agora Orfeu deve levá-la, sem poder olhar para ela.

Ato III
Inconformada com a aparente indiferença na atitude de Orfeu, que não olha para ela durante a caminhada, Eurídice revolta-se e inicia uma grande discussão, que culmina com o dueto “Vieni, appaga il tuo consorte”, que é um retrato extremamente atual da falta de compreensão entre um casal. Em seguida Eurídice canta sua ária “Che fiero momento”, onde proclama seu veredito – a morte é melhor do que a indiferença de seu amado. Orfeu, atordoado, não suporta a pressão de Eurídice, e volta-se a ela tomando-a nos braços. Eurídice sofre então o castigo da morte. Orfeu então canta a ária mais famosa da partitura “Che farò senza Euridice”, um lamento desconsolado, com sua amada, sem vida, em seus braços. Comovido pela dor de Orfeu, Amor entra mais uma vez em cena, e com seu toque devolve a vida à Eurídice. Entram os amigos de Orfeu em festa, e começa um bailado. Todos juntos cantam então um hino de júbilo, celebrando a vitória de Amor e dos amantes.

           

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