A COROAÇÃO DE POPEIA

De Claudio Monteverdi - Festival de Salzburgo

Exclusivo

Ópera em um prólogo e três atos
Libreto de Giovanni Francesco Busenello
Encenada pela primeira vez em 1642, em Veneza
Cantada em italiano
Duração: 3h15

Maestro: William Christie
Diretor: Jan Lauwers
Dramaturgia: Elke Janssens
Figurino: Lemm&Barkey
Coreografia: Academia Experimental de Dança de Salzburgo e Bodhi Project
Orquestra: Les Arts Florissants

Sonya Yoncheva (Popeia)
Kate Lindsey (Nero)
Stéphanie d’Oustrac (Otávia)
Carlo Vistoli (Oto)
Renato Dolcini (Sêneca)
Ana Quintans (Virtude/Drusila)
Marcel Beekman (A ama da imperatriz)
Dominique Visse (Arnalta)

O imperador Nero mantém um relacionamento apaixonado com Popeia, esposa de seu amigo Oto. Para se casar com a amante, Nero planeja se desvencilhar da imperatriz, Otávia. Esta, por sua vez, manipula Oto de modo que ele, com a ajuda de sua antiga amante, Drusila, venha a matar sua esposa infiel. O complô, contudo, acaba sendo revelado.

Da última ópera composta por Monteverdi existem várias versões diferentes, o que torna difícil a escolha de uma delas como sendo a definitiva, já que esta ópera teve algumas vezes sua autoria contestada. Seja como for, A coroação de Popeia figura como a última obra-prima de um compositor que havia atingido o apogeu de seus recursos musicais e dramáticos, o que lhe permitia abranger todas as nuances das paixões humanas. Ambição cega, amor desmesurado pelo poder, inveja e desejos arrebatados determinam a ação nessa ópera inovadora, cuja primeira originalidade reside no fato de um tema histórico ser abordado com um realismo absolutamente psicológico. Se A coroação de Popeia marca o nascimento da ópera moderna ao inventar uma nova teatralidade, a obra também rompe com as convenções da época pelas suas audácias rítmicas, harmônicas e vocais, todas postas a serviço da eficácia dramática. A primazia é dada ao canto, limitando a orquestra a uma formação reduzida, de modo que a expressividade das paixões atinge um realismo surpreendente graças a essa luminosa nudez imposta às vozes.

O que o maestro William Christie e o diretor Jan Lauwers propõem em Salzburgo é um espetáculo ambicioso, barroco ao extremo, sensual e musicalmente bem-sucedido. Dramaturgo, coreógrafo, atuante no campo das artes plásticas, Lauwers é um artista completo que combina todas as linguagens para conceber performances não convencionais. A atuação de cerca de 20 dançarinos como que duplica ou multiplica os personagens da história, transmitindo por mímica a realização de seus impulsos, constituindo assim uma espécie de exegese direta do drama que se desenrola diante dos espectadores. Compondo às vezes magníficos tableaux vivants inspirados em pinturas do século XVII, eles assumem a sensualidade exuberante, a violência, a obscenidade e as ambiguidades das personagens.

De acordo com William Christie, “a obra reflete as contradições e a fragilidade da alma humana” e o maestro considera também que a “emoção nasce diretamente da partitura de Monteverdi”. A esse respeito, acrescenta: “Para transmitir essa emoção, procurei respeitar escrupulosamente a música como ela foi escrita pelo compositor”.

Os 16 instrumentistas que compõem a orquestra também contribuem para o aspecto visual do espetáculo, o qual, aliás, é acompanhado por eles com toda a atenção, sendo de vez em quando solicitados pelos cantores ou dançarinos. William Christie se mantém sentado com simplicidade diante do cravo e acompanha os cantores procurando se adaptar ao ritmo de cada um da forma mais harmoniosa possível para o conjunto.

O elenco é dominado por uma Popeia incendiária interpretada por Sonya Yoncheva. Mais livre do que nunca, a estrela recorre a todo instante aos seus atrativos que enfatizam a sensualidade do personagem, sejam os recursos vocais ou físicos. Para ela, A coroação de Popeia é uma obra de provocação, fruto da ambição de uma mulher sem limites, de uma mulher que ama um homem, o dinheiro, o poder, a política e que ama a si.

Sua rival, Otávia, é encarnada por uma Stéphanie d’Oustrac escultural, que reflete perfeitamente a complexidade da personagem, situada entre o desespero, a raiva e o remorso. Seu monólogo quando deixa Roma é magistral e comovente, enquanto o duo final, protagonizado com grande sutileza, é de uma beleza estonteante por sua humanidade e simplicidade.

Kate Lindsey também se mostra magnífica no papel de Nero, do qual ela também transmite todas as ambiguidades, com uma personalidade bastante incisiva.

Carlo Vistoli é um Oto viril e cheio de ardor: a voz é calorosa, rica em harmonias, com nuances sutis, e o cantor se revela um excelente músico.

Renato Dolcini, no papel de Sêneca, com um figurino vistoso, também exibe um desempenho impressionante. Jovem demais para interpretar um filósofo às portas da morte, ele é acompanhado de um dançarino que se encarrega de simbolizar esse aspecto do personagem.

Em grande forma vocal, mas mostrando também sintonia com o papel, Dominique Visse está hilariante, sem deixar de ser adequado como Arnalta, emprestando à velha criada uma personalidade forte e cativante.
Fazendo pendant com ele está Marcel Beekman, também muito divertido como a criada de Otávia.

Prólogo

As figuras da Fortuna, da Virtude e do Amor debatem qual das três tem maior poder sobre a humanidade. O Amor se diz o mais poderoso e justifica seu argumento contando a seguinte história:

1º Ato: Estamos em Roma, por volta do ano de 55 d.C.

Otão regressa da guerra e descobre que a sua mulher Popeia, jovem bela e ardilosa, o trocou pelo tirânico imperador Nero. Apesar dos sábios conselhos do filósofo Sêneca, Nero resolve livrar-se da sua mulher Otávia e fazer de Popeia a nova imperatriz. Otávia pede ajuda a Sêneca, antigo professor de Nero, que a ajude junto ao Senado. Ele atende: faz um discurso no Senado onde expõe a decadência da nobreza e pede explicações a Nero sobre a sua conduta indecorosa. Irascível, o Imperador corta relações com Sêneca. Por sua vez, Otão, movido pelos ciúmes, desabafa com Drusila, uma senhora da corte que está apaixonada por ele. Otão quer ver Popeia punida.

2º Ato: No início do segundo ato Mercúrio anuncia a morte eminente de Sêneca.

O filósofo, por não aprovar a conduta do seu antigo discípulo, passa a ser considerado incômodo. É abordado por um membro da guarda imperial que lhe leva uma ordem de Nero: Sêneca deve suicidar-se. Os amigos do filósofo tentam convencê-lo a fugir, mas Sêneca se recusa e cumpre as ordens do imperador.

Otão insiste em se vingar de Popeia. É abordado pela imperatriz Otávia que, obviamente o apoia, fazendo despertar nele um desejo de vingança ainda maior. Popeia merece realmente a morte por tal ultraje. Otão pede ajuda a Drusila que lhe empresta suas roupas para ele se disfarçar.

Nos seus aposentos, Popeia já se sente imperatriz. Arnalta, mãe de Popeia, adverte-a para o desejo desenfreado de poder e tenta adormece-la. É assim que Otão entra no quarto da sua ex-mulher para levar a cabo o assassinato. Quando se prepara para matar Popeia, esta é acordada pela figura do Amor que assim evita o assassinato.

3º Ato: O plano de Otão e Drusila foi frustrado

O terceiro ato começa com a prisão de Drusila. Diante os interrogadores, ela assume todo o plano por amor a Otão, o que o leva a confessar a sua culpa e a declarar que também ama Drusila.

Otão, Drusila e Otávia são condenados ao exílio pelo imperador. Depois disto, Nero e Popeia têm finalmente caminho livre para se casarem. Octavia despede-se de Roma e Popeia é coroada imperatriz.

           

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