O CAVALEIRO DA ROSA

De Richard Strauss - Ópera do Estado de Berlim



Ópera em 3 atos

Livreto: Hugo von Hofmannsthal

Baseado no Les amours du chevalier de Faublas de Louvet de Couvray

Encenado pela primeira vez no Königliches Opernhaus de Dresden em 1911

Maestro : Zubin Mehta
Diretor : André Heller

A Marechala………………….Camilla Nylund
Barão Ochs…………………..Christof Fischesser
Octavian……………………….Michèle Losier
Sophie……………….…………Nadine Sierra

O jovem Octavian aprende uma lição de vida e de sexualidade da Marechala, Princesa Werdenberg. Mas, só descobre a si mesmo e começa a entender os mistérios do coração feminino quando é encarregado por ela de uma nobre missão: levar uma rosa de prata à jovem Sophie, a noiva do Barão von Lerchenau.

Com seus perfumes inebriantes e a tudo envolvendo em sua capa cintilante, a orquestra de Richard Strauss nos convida, desde o prelúdio, a nos deixarmos embriagar pelos sentidos: substanciosa, com sua seção de cordas acariciantes, seus metais animados por ardor, expressa até em seus suspiros os prazeres da noite ardente que acabam de viver a dama e seu jovem amante, Octavian. Porém, para este jovem ágil, o amor – o verdadeiro – se encontra em outra parte: chega com a entrada em cena da deslumbrante Sophie, que Strauss adorna com
agudos etéreos e sonoridades de cristal. No tom de uma brilhante conversação musical, a comédia de Strauss et Hofmanstahl rende homenagem tanto à Viena de Maria Teresa, quanto ao espírito e ao encanto de Mozart. Para além do turbilhão de cenas e das reviravoltas de sua trama, nela o tempo às vezes parece parar. Tanto a música como as palavras então adquirem um sabor evanescente: em torno do retrato, cheio de nuances, da “Marechala”, a comédia nesses momentos se transforma numa reflexão – entre doce e amarga – a respeito da vida, do caráter fugaz do tempo e da impalpável nostalgia do amor.

Já é uma experiência incomum perceber um diretor ou um cantor garantir com seu desempenho o sucesso de toda uma produção. Outra, mais prazerosa ainda, é constatar ao longo de uma noite de espetáculo que intérpretes, figurinistas, cenógrafos – em síntese – que o conjunto da equipe envolvida no processo de criação se confunde no mesmo nível de excelência. O alinhamento dos astros nessa configuração feliz se deu nesta ocasião – a segunda apresentação de Rosenkavalier regida por Zubin Mehta e dirigida por André Heller –
proporcionando, sem pretensões ou revoluções, uma noite memorável.

Em relação às vozes, o elenco merece a cotação cinco estrelas. Interpretando a “Marechala”, papel sempre cercado de expectativas, Camilla Nylund não nos cansa de surpreender, conseguindo combinar a qualidade robusta de uma grande soprano dramática com uma leveza cintilante nos agudos, o todo marcado por uma elegância aristocrática. Michèle Losier, como Octavian, se impõe no começo por um legato originalmente suave, antes de explodir em fortíssimos cuja intensidade impacta a plateia. Porém é à jovem Nadine Sierra que são reservados os maiores elogios. Já nas suas primeiras intervenções, no segundo ato, alcançam o ápice de seu desempenho em termos de pureza.

A direção de André Heller não tem a pretensão de mudar a face do mundo da ópera, nem propõe uma reinterpretação do argumento bastante datado de Rosenkavalier. Uma vez definida essa humildade em termos de objetivos, a equipe não mede recursos na sua produção: é uma profusão de cores, uma exuberância nos figurinos, uma multiplicação de acessórios, cujo número e extensão sugerem terem saído de um sonho. A direção, os cenários, os quadros, as roupas, as referências culturais, a ambientação – puramente vienense, é claro – tudo é feito para que, no espaço de uma noite, nós sejamos transportados para cem anos atrás, para
apartamentos ora em estilo japonês, ora glamorosos como os da Viena fin-de-siècle, da forma que a aristocracia e a nobreza desfrutaram na época.

Ato I

Na ausência do marido, a Marechala passa a noite com seu jovem amante Otaviano. Chega o Barão Ochs, primo da Marechala, que vem anunciar seu noivado com Sophie Faninal; Ochs vem acima de tudo em busca de um cavaleiro que, segundo a tradição, será o responsável por levar uma rosa de prata para sua noiva. Mas, neste momento, o bom e gordo Ochs está especialmente interessado na pequena Mariandel, que não é outra senão o próprio Otaviano disfarçado de criada! É uma verdadeira valsa de criados e criadas que percorre o quarto da Marechala, sem falar no concerto matinal de um tenor italiano… interrompido ruidosamente pelo Barão. Depois de toda a turbulência, a Marechala encontra-se só: não esconde o seu desprezo por seu primo corpulento, então, tomada pelas memórias, entrega-se à melancolia, evocando o curso irremediável do tempo.

Ato II

O marechal, que sabe que um dia será necessário se afastar de Otaviano, mesmo assim o escolhe para entregar a rosa de prata à noiva, Sophie. Mas quando esta última, impaciente pela chegada de seu marido, recebe a visita do cavaleiro com a rosa chamado Otaviano, se apaixona imediatamente. O Barão Ochs trata Sophie rudemente: como ela poderia querer se casar com aquele escudeiro pesado, ainda mais em vista de seu amor à primeira vista por Otaviano? Enquanto conversam carinhosamente, Ochs os surpreende: o tom aumenta rapidamente e aqui dá-se início a uma luta! O pequeno arranhão infligido ao Barão é suficiente para fazê-lo gritar pela morte. Ele geme, rodeado de mil preocupações, mas uma garrafa de vinho o faz esquecer suas angústias; Ochs então recebe uma carta da pequena Mariandel, situada na casa dos Marechais, que marca um encontro – uma armadilha de Otaviano na qual Ochs mergulha de olhos fechados.

Ato III

Em uma pousada de má fama, Ochs tenta seduzir Mariandel, mas é pego na mosca, quando Sophie e seu pai, discretamente convidados por Otaviano, o descobrem em companhia galante. Ochs sai do local, confuso, enquanto o Marechal, vindo para acalmar a situação, encontra Otaviano completamente apaixonado por Sophie. Um trio sublime os reúne: a Marechala canta um adeus resignado ao seu amor, enquanto Sophie e Otaviano se maravilham com o sentimento que os invade: a promessa de um amanhã feliz.