PARSIFAL

De Richard Wagner - Ópera do Estado de Viena



Bühnenweihfestspiel em 3 atos

Encenada pela primeira vez no Festival de Bayreuth a 26 de julho de 1882

Duração: 4h00

Maestro: Philippe Jordan
Diretor: Kirill Serebrennikov
Regente do coro: Thomas Lang
Orquestra da Ópera de Viena

Parsifal………………………Jonas Kaufmann
Gurnemanz…………………Georg Zeppenfeld
Kundry………………………..Elīna Garanča
Amfortas……………….……Ludovic Tézier
Klingsor………………………Wolfgang Koch.

O mago Klingsor criou um jardim mágico repleto de mulheres para fazer com que cavaleiros do Graal rompam com seu voto de castidade. Com o rei do Graal ferido, a redenção só será alcançada pelos atos de um homem inocente e casto, Parsifal.

Esta produção de Parsifal é a primeira concebida pela Ópera Estatal de Viena desde o advento da nova equipe dirigida por Bogdan Roščić. A concepção cênica é assinada por Kirill Serebrennikov, o qual, residindo em Moscou, dirige seus espetáculos à distância. É necessário levar em conta este fato para penetrarmos na lógica deste trabalho por uma abordagem autoficcional.

Serebrennikov vê Montsalvat não como um objeto de salvação, mas como um mundo isolado do exterior e submetido a regras rígidas. Transpondo a obra para uma prisão, lugar fechado e regido por suas próprias leis, ele muda o seu contexto, mas não trai a obra.

Adapta a história a um relato possível: o jovem Parsifal raivoso degola um rapaz (o cisne) que o olhava de modo insistente. É uma bela ideia que conserva a metáfora do cisne, adaptando-a, e instala Parsifal lá onde ele deve estar, como um homem indomável, que não tem nenhuma ideia do bem ou do mal. Mais do que uma história religiosa, Serebrennikov nos conta, portanto, uma história de humanidade. Seu trabalho é de uma grande originalidade, mantendo um respeito escrupuloso ao libreto, esforçando-se em extrair dele uma imagem livre desse lado messiânico que, com tanta frequência, caracteriza as leituras de Parsifal.

A serviço desse trabalho, o coro da Ópera Estatal de Viena (regido por Thomas Lang) se mostra monumental. Também a orquestra demonstra estar num altíssimo patamar de qualidade. Philippe Jordan acompanha o trabalho de direção com atenção, sutileza e uma grande preocupação de coerência. Quanto ao elenco, pode-se dizer sem receio que para esta ocasião a Ópera de Viena fez uma escolha que não poderia ser mais convincente. Nesse aspecto, dificilmente seria possível fazer melhor.

O Klingsor de Wolfgang Koch é excepcional em todos os aspectos. O mesmo vale para o Gurnemanz de Georg Zeppenfeld, mais impressionante pelo fato de que toma parte de uma montagem na qual seu personagem não figura como a estátua falante ou cantante como costuma ser a regra. Trata-se de um personagem vivo, humano, ativo: ele renova a visão do papel.

Nesta montagem, Jonas Kaufmann interpreta o que ele mesmo é, um homem maduro que aprendeu com a vida e que a observa se desdobrando à sua frente. Não há um descompasso entre o personagem e o cantor. Podemos então apreciar sua dicção impecável, a maneira como cada palavra é colocada e pesada, as cores, toda a inteligência à qual sabe recorrer ao investir a fundo num papel.

Ludovic Tézier assume pela primeira vez o papel de Amfortas e é de se lamentar que conte apenas com duas árias, pois ele se deixa imbuir do personagem com todas as qualidades exigidas: potência, fraseado, cores, emoção. Tézier se mostra no ápice de sua arte nesta montagem da ópera de Wagner.

Enfim, Elina Garanča também pela primeira vez é Kundry e se projeta imediatamente entre as melhores interpretações deste papel. Ela é simplesmente estonteante, primeiro pelo canto, de um volume excepcional, mas também por sua atenção à dicção, com todas as inflexões e sobretudo com todas as cores. Mas é extraordinária também pela maneira segura e comovente – patética até – com que lança mão de um arsenal de gestos e olhares de uma naturalidade surpreendente. Uma Kundry de uma modernidade tal que relega as
outras Kundry à condição de fósseis em um museu.

Sem exagero, pode-se dizer que estamos diante de um elenco e de uma concepção cênica que prometem marcar o cenário da ópera por muito tempo.

ATO I

Na Floresta de Montsalvat, um velho Cavaleiro narra a dois jovens a desgraça que se abatera sobre o Reino do Graal, enquanto Amfortas toma banho no Lago na esperança de sarar as feridas, ajudado por Kundry, que lhe oferece os seus bálsamos. Aparecem outros Cavaleiros, que trazem Parsifal, acusado de ter cometido o sacrilégio de matar um Cisne selvagem, perturbando assim a paz daquele lugar sagrado. O velho Cavaleiro interroga Parsifal e verifica que o jovem não apenas cometera inocentemente aquele delito, como que também não conhecia as suas próprias origens: seus pais ou mesmo o local onde nasceu. O velho pressente: Parsifal é o Salvador por que tanto esperavam. No interior do Templo do Graal, o velho Rei Titurel ordena a Amfortas que celebre o Ofício Divino. Durante toda a cerimônia Parsifal conserva-se impassível, e, quando questionado se compreendeu o significado da cerimônia que assistira, responde que não. Desapontado, o velho o expulsa do Templo.

ATO II

No interior da Torre do Castelo Encantado de Klingsor, Kundry cai, de novo, nos sortilégios do Feiticeiro, que lhe ordena que seduza Parsifal, reconhecido como o anunciado Salvador dos Cavaleiros. A Torre transforma-se no Jardim Mágico, onde Parsifal permanece insensível aos encantos das Donzelas das Flores. Quando Kundry tenta beijá-lo, Parsifal tem uma visão do papel que lhe é destinado. Então Kundry pede auxílio a Klingsor, que
atira contra Parsifal a própria Lança Sagrada. Mas a Lança imobiliza-se sobre a cabeça do jovem, que a agarra, e que com ela traça o sinal da Cruz. Nesse instante, o Jardim desaparece e Parsifal vê-se no meio de um terrível deserto.

ATO III

20 anos depois do confronto entre Klingsor e Parsifal. É Sexta-feira Santa e chega um Cavaleiro vestido de negro empunhando a Lança Sagrada. O velho Gurnemanz, ao vê-lo, compreende estar na presença do Salvador prometido. Esse Cavaleiro Negro é Parsifal, a quem o velho narra o estado de desespero ao qual o Reino chegou: Amfortas, vítima da ferida aberta há 20 anos, não suporta mais a dor e recusa-se a desempenhar as suas sagradas funções. Mas não pode morrer sem voltar a ver o Graal. O velho Cavaleiro pede a Parsifal que aceite ser consagrado Rei do Graal. Parsifal aceita. Como aceita também que Kundry lhe lave os pés e os enxugue com os seus cabelos. É então que Parsifal a batiza e a absolve dos pecados. No Templo do Graal, os Cavaleiros pedem a Amfortas para celebrar o Ofício Divino. Mas Amfortas recusa, imobilizado pela dor. Chegam Gurnemanz e Kundry na companhia de Parsifal que se aproxima de Amfortas e lhe toca a ferida com a Lança. A ferida sara de imediato. Parsifal ergue o Cálice Santo.