O PALÁCIO ENCANTADO

De Luigi Rossi - Ópera de Dijon



Azione in musica (Ação musical)

Libreto: Giulio Rospigliosi

Cantada em italiano

Encenada pela primeira vez em 1642, em Roma, e pela segunda vez em 2021 em Dijon (França)!

Duração: 3h34

Maestro: Leonardo García Alarcón
Diretor: Fabrice Murgia
Cappella Mediterranea
Coro da Ópera de Dijon e Coro de Câmara de Namur

 

CONFIRA A ENTREVISTA COM O MAESTRO ALARCÓN

Orlando……………………………………………………Victor Sicard
Angélica…………………………………………………..Arianna Vendittelli
Ruggiero………………………………………………….Fabio Trümpy
Bradamante | A Pintura……………….……………Deanna Breiwick
Atlante…………………………………………………….Mark Milhofer

Para salvar seu protegido de uma desgraça, um mago aprisiona cavaleiros e damas num palácio encantado e labiríntico, até que eles acabam perdendo a razão. O palácio é uma representação da vida humana, pela qual as criaturas passam quase sempre ansiosas, na busca dessa felicidade que raramente ou nunca conseguem encontrar.

O Palácio Encantado se baseia no poema épico Orlando Furioso, de Ariosto. O libreto, escrito pelo cardeal Giulio Rospigliosi (futuro papa Clemente IX), relata as aventuras de famosos heróis onipresentes nas óperas
barrocas dos séculos XVII e XVIII, até Haendel, e de muitos outros personagens secundários que dão densidade a uma intriga cujo tema central, naturalmente, é o amor. O amor em todas as suas formas: a busca do outro, que se esquiva ou se entrega, a dor de amor, o desejo frustrado ou satisfeito, a traição e a fidelidade — numa série de variações constantemente renovadas.

A obra foi encomendada pelo cardeal Antonio Barberini na época em que as grandes famílias aristocráticas da Roma papal rivalizavam na riqueza e no apoio às artes. As composições de então são suntuosas. E O Palácio
Encantado ilustra perfeitamente essa suntuosidade: encontramos na ópera música, canto, dança, teatro, cenários, figurinos e efeitos cênicos impressionantes para a época, grandes coros e uma orquestra numericamente considerável (cerca de quarenta músicos).

A primeira ópera de Luigi Rossi, com nada menos que dezesseis solistas, coros duplo e triplo a seis e doze vozes, além de numerosos balés, assinala o último grande momento da ópera romana antes de ser abandonada
por muito tempo pela Cidade Eterna. A 29 de julho de 1644, com a morte do papa Urbano VIII, chega ao fim o reinado da família que havia moldado Roma. Giovanni Battista Pamphili, da família rival dos Barberini, vem a
sucedê-lo, subindo ao trono como papa Inocêncio X: agora é a Espanha devota que dá as cartas em Roma, e a ópera deixa de ser de bom tom.

O dueto de amor de O Palácio Encantado foi o primeiro da história da ópera, e Francesco Barberini, que havia feito a encomenda a Rossi, exigiu que fosse cantado por uma mulher e um homem! O que, no entanto, não foi
possível, mesmo sendo ele sobrinho do papa Urbano VIII, e mesmo sendo ele próprio um cardeal. Não sabemos ao certo se os cantores se recusaram ou se foi mais forte o peso das convenções. Além disso, esse dueto, mesmo cantado com um castrado, causou tal escândalo em Roma que teve de ser eliminado. E Francesco Barberini ficou tão indignado que cancelou as récitas, que ocorriam no teatro instalado no palácio da família.

Esquecida durante quase 380 anos na Biblioteca do Vaticano, esta obra-prima foi redescoberta pelo maestro argentino Leonardo García Alarcón e ressurge aqui numa montagem de notável inventividade, optando por dar destaque à dimensão humana da história e assim transpondo a ação para nossa época. O palácio encantado onde o mago Atlante mantém cativos Angélica e Ruggiero e várias outras vítimas dos dois sexos foi transformado num hotel em cujos corredores labirínticos e compartimentos do subsolo e dos andares
superiores se escondem tórridos segredos. Atlante, o mago, se compraz em causar perturbação entre os casais e em separá-los, sem que fiquem claras suas motivações. O encenador joga com virtuosismo com um cenário móvel montado sobre uma tripla base rotativa, com suas transformações e afinal o seu desaparecimento evocando o aprisionamento e a falta de rumo dos personagens.

O elenco é todo ele extraordinário, dos maiores aos menores papéis. Ficamos particularmente encantados com o suave Ruggiero do tenor Fabio Trümpy, a voz quase baritonal de Mark Milhofer, o poderoso baixo Grigory
Soloviov e o fascinante contratenor Kacper Szelasek, com seu timbre andrógino. Entre as protagonistas femininas, vale citar a Angélica torturada de Arianna Vendittelli, de timbre brilhante no grande lamento que canta o tempo todo deitada, Deanna Breiwick, que confere impressionante relevo a Bradamante, a guerreira enciumada, e Mariana Flores, igualmente convincente como Marfisa, dominadora cheia de ironia, e como Doralice, donzela seduzida e engravidada.

À frente de sua orquestra, a Capella Mediterranea, e dos coros da Ópera de Dijon e de Namur, Leonardo García Alarcón nos dá uma leitura exuberante mas afiada de uma partitura rica e extremamente variada, com uma
continuidade musical em que mal se distingue o arioso do recitativo — este último acompanhado, é bem verdade, de um conjunto particularmente numeroso. Só podemos agradecer a Leonardo García Alarcón por ter
redescoberto e orquestrado de maneira sublime esta que ele mesmo chama de “elo perdido da história da ópera e metáfora da nossa vida”.