LES INDES GALANTES

De Jean-Philippe Rameau - Ópera Nacional de Paris



Ópera-balé

Libreto: Luis Fuzelier

Cantada em francês

Encenada pela primeira vez no Theâtre du Palais Royal em 1735

Duração: 1h53

Maestro: Leonardo García Alarcón
Diretor: Clément Cogitore
Orquestra Cappella Mediterranea, coros de Namur e da Ópera Nacional de Paris
Coreografia: Bintou Dembélé
Bailarinos: Compagnie Rualité

Hébé | Phani | Zima……………….Sabine Devieilhe
L’amour | Zaïre………………………Jodie Devos
Émilie | Fatime………………………Julie Fuchs
Bellone | Adario……………..……..Florian Sempey
Osman | Ali……………………………Edwin Crossley-Mercer

Sequência de quatro dramas líricos independentes interligados por um tema exposto no prólogo: o Amor une diferentes culturas. O libreto de Louis Fuzelier inspirou-se em documentos e relatos de testemunhas sobre as “Índias”, abarcando lugares “exóticos” como a Turquia, o Peru, a Pérsia e a América do Norte. Deixando de lado os deuses e feiticeiros habituais no barroco, ele voltava sua atenção para pessoas “comuns” que se apaixonam.

Les Indes Galantes fez tanto sucesso em 1735 que em quarenta anos seria apresentada mais de trezentas vezes em Paris, de diferentes formas. Rameau compôs música de grande variedade para cada “entrada”. As linhas melódicas, os ritmos e a inventividade harmônica caracteristicamente profusa formam um mosaico de diferentes mundos unidos pelo amor — e pela música. As extravagantes danças desta ópera combinavam com o exotismo dos enredos. Desde a época de Lully, interlúdios de dança ou balé eram essenciais na ópera francesa. Rameau manteve a tradição, que prosseguiu até boa parte do século XIX.

Rameau desenvolve na ópera uma série de intrigas amorosas salpicadas de quiproquós que transcorrem nos “diferentes climas das Índias” (nome que era dado aos países não europeus). O que significa que por trás do suntuoso divertimento de corte facilmente percebemos hoje em dia o objetivo político, que era glorificar a dominação da França em suas colônias recentes — especialmente nas Américas.

Em vez de escamotear esse aspecto político, o encenador Clément Cogitore, que tem aqui sua primeira experiência lírica, usa pelo contrário a visão aparentemente humanista do Homem do Iluminismo a respeito dos “selvagens” como chave para falar do mal-entendido contemporâneo entre o homem ocidental e o resto do mundo. Escreve ele: “A alteridade pode ser encontrada tanto além-mar quanto em ruas próximas de nós, pois nossas megalópoles se transformaram em cidades-mundo, plasmadas por movimentos migratórios às vezes muito antigos nos quais cada comunidade herdou um território próprio, por ela habitado com a respectiva História e cultura.” Neste sentido, sua ideia central foi recorrer à krump, dança urbana surgida nos guetos de Los Angeles na década de 2000, assim como a outras danças do hip-hop, com a colaboração da coreógrafa Bintou Dembelé.

Embora certos aspectos deixem a desejar, o grande êxito dessa encenação decorre do confronto entre dois mundos aparentemente antagônicos, o das danças urbanas e o da ópera, e da presença da dança, que toma conta do palco, inclusive dos cantores, abolindo a hierarquia e as fronteiras tradicionais entre dançarinos, cantores, solistas e coristas.

Além de suas extraordinárias qualidades musicais, a nova geração de cantores franceses se distingue por excepcional vigor na expressão corporal. Embora todos sejam excelentes, aqui vai uma menção especial a Julie Fuchs, que, além de uma voz que vem ganhando em harmonia ao longo dos anos, revela inesperado talento para a dança; e sobretudo a Sabine Devieilhe, que nos oferece um momento de absoluto encantamento na ária de Phani “Viens hymen, viens m’unir”, cantada mezza voce.

As óperas barrocas sempre são apresentadas no Palais-Garnier, um teatro fechado, à italiana. Para uma orquestra como a Cappella Mediterranea, tocando sem amplificação eletrônica em diapasão de lá = 415 e reunindo no fosso cerca de cinquenta instrumentistas, bem de acordo com a interpretação no estilo do século XVIII, a sala da Opéra Bastille é um verdadeiro Everest. Como projetar o som sem desnaturá-lo? Não chega a ser um problema para o maestro Leonardo García Alarcón. Sua regência, precisa e cheia de ardor, transmite com limpidez toda a complexidade da partitura, inclusive nos momentos de mudança de compasso. A ópera termina triunfalmente, com o público ovacionando a chegada do hip-hop à Opéra Bastille.

Prólogo
O palácio de Hebe ao fundo e seus jardins
Hebe, deusa da juventude, convoca seus seguidores para participar de um festival (Vous, qui d’Hébé suivez les lois). Jovens franceses, espanhóis, italianos e poloneses correm para comemorar com uma série de danças, incluindo uma musette. O balé é interrompido pelo barulho de tambores e trombetas. É Bellona, deusa da guerra, que chega ao palco acompanhada por guerreiros com bandeiras. Bellona convida os jovens a buscarem a glória militar (La Gloire vous appelle). Hebe ora ao Cupido (L’Amour) para usar seu poder para contê-los. O Cupido desce em uma nuvem com seus seguidores. Ele decide abandonar a Europa em favor das “Índias”, onde o amor é mais bem-vindo.

Entrée I – O turco generoso

Os jardins de Osman Pasha à beira do mar
Osman Pasha está apaixonado por sua escrava, Émilie, que o rejeita, dizendo que estava prestes a se casar quando um grupo de bandidos a sequestrou. Osman a incentiva a desistir da esperança de que seu noivo ainda esteja vivo (Il faut que l’amour s’evole), mas ela se recusa a acreditar. Uma tempestade se forma; Émilie vê o clima violento como uma imagem de seu desespero (Vaste empire des mers). Ouve-se um coro de marinheiros
naufragados (Ciel! De plus d’une mort). Émilie lamenta que eles sejam levados cativos. Ela reconhece um deles como seu noivo, Valère. A alegria do reencontro é temperada pela tristeza com o pensamento de que agora ambos são escravos. Osman fica furioso ao vê-los juntos. No entanto, ele anuncia que os libertará. Ele também reconheceu Valère, que já foi seu mestre, mas bondosamente o libertou. Osman enche os navios sobreviventes de Valère de presentes e o casal elogia sua generosidade. Eles apelam aos ventos para levá-los de volta à França (Volez, Zéphyrs). O ato termina com danças comemorativas enquanto Valère e Émilie se preparam para zarpar.

Entrée II – Os incas do Peru

Um deserto no Peru.
Carlos, um oficial espanhol, está apaixonado pela princesa inca Phani. Ele a pede que fuja com ele, mas ela teme a raiva dos incas, que se preparam para celebrar o Festival do Sol. No entanto, Phani está preparada para se casar com Carlos (Viens, Hymen). O sacerdote inca Huascar, também apaixonado por Phani, suspeita que ele tenha um rival e decide recorrer a um subterfúgio. Huascar conduz a cerimônia de adoração ao Sol, que é
interrompida por um súbito terremoto. Ele declara que isso significa que os deuses querem que Phani o escolha como seu marido. Carlos entra e diz a Phani que o terremoto foi um truque, artificialmente criado pelo sacerdote. Carlos e Phani cantam seu amor enquanto Huascar jura vingança (Pour jamais). Huascar provoca a erupção do vulcão e é esmagado por suas pedras em chamas.

Entrée III – As Flores

Os jardins do palácio de Ali
O príncipe Tacmas está apaixonado por Zaire, uma escrava de Ali, embora ele tenha uma escrava própria, Fatime. Ele aparece no palácio de Ali disfarçado de mulher para que possa entrar no harém sem ser notado e testar os sentimentos de Zaire por ele. Zaire entra e lamenta que ela está tristemente apaixonada (Amour, Amour, quand du destin j’éprouve la rigueur). Tacmas a ouve e está determinado a descobrir o nome de seu rival. Fatime entra agora, disfarçada de escravo polonês, e Tacmas acredita ter encontrado o amante secreto
de Zaire. Enfurecido, ele tira seu disfarce e está prestes a esfaquear Fatime quando ela também revela sua verdadeira identidade. Acontece que Zaire estava apaixonado por Tacmas o tempo todo, assim como Fatime estava apaixonada por Ali. Os dois casais se alegram com esta feliz resolução (Tendre amour) e o ato termina com os persas celebrando o Festival das Flores.

Entrée IV – Os selvagens

Um bosque em uma floresta da América, na fronteira das colônias francesa e espanhola, onde está prestes a ser celebrada a cerimônia do Cachimbo da Paz. Adario, um nativo americano, está apaixonado por Zima, filha de um chefe nativo, mas teme a rivalidade do espanhol Don Alvar e do francês Damon (Rivaux des mes exploits, rivaux des mes amours). Os europeus imploram a Zima por seu amor, mas ela diz que Damon é muito inconstante e Alvar é muito ciumento; ela prefere o amor natural demonstrado por Adario (Sur nos bords l’amour vole) e o casal jura se casar (Hymen, viens nous unir d’une chaîne éternelle). O ato termina com os europeus juntando-se aos nativos na cerimônia de paz (Forêts paisibles).