FAUSTO

De Charles Gounod - Opera Nacional de Paris



Ópera em 5 atos

Libreto: Jules Barbier e Michel Carré

Baseado na obra de Goethe

Encenada pela primeira vez em Paris (Théâtre Lyrique), em 19 de março de 1859

Duração: 2h10

Maestro: Lorenzo Viotti
Diretor: Tobias Kratzer
Orquestra da Ópera Nacional de Paris

Fausto………………………Jean-Yves Bernheim
Marguerite………………..Ermonela Jaho
Mefistófeles………………Benjamin van Horn
Valentim……………………Christian Sempey

Envelhecido, Doutor Fausto é um sábio desesperançado e cansado da vida. De repente, Mefistófeles, o diabo em pessoa, aparece diante dele. Ele faz um pacto com Fausto, que lhe oferece a eterna juventude em troca de sua alma. Fascinado por uma imagem de Marguerite que Mefistófeles lhe mostra para convencê-lo, Fausto parte para seduzi-la.

Com Fausto, de Gounod, o diretor Tobias Kratzer faz uma estreia fantástica na Ópera de Paris. Fantástica também no sentido literário do termo, ou seja, ele integra o elemento sobrenatural a um universo ultrarrealista contemporâneo. Sua visão espetacular da obra de Gounod repousa num perfeito domínio de efeitos especiais de tirar o fôlego, assim como no recurso pertinente à linguagem do vídeo.

Ele nos faz embarcar numa corrida implacável rumo ao abismo, apresentando personagens mais profundamente elaborados do que o habitual, numa sucessão de quadros surpreendentes, muitas vezes audaciosos. Fausto, ópera imortal de nossos ancestrais se transforma pelas mãos de Kratzer no mais contemporâneo dos thrillers.

Do alto dos seus 31 anos, o maestro Lorenzo Viotti conduz a Orquestra da Ópera de Paris com bastante maturidade, com gestos suaves, porém firmes. As cordas sustentam a delicadeza de Marguerite; os metais, a solenidade de Valentim; os oboés e clarinetes, a ironia de Mefistófeles, e os timbales, a gravidade do destino
que pesa sobre Fausto.

Benjamin Bernheim interpreta o papel-título. Sua voz clara e cálida demonstra desde o início o entusiasmo de seu personagem, em seguida, ao longo de todo o espetáculo, a delicadeza de seu fraseado encanta o ouvido do público, assim como ocorre com Marguerite. Neste papel, Ermonela Jaho nos propõe uma projeção que se sustenta, tanto nos graves profundos quanto nos agudos marcadamente líricos.

Ela seduz pelos seus piani, tão refinados quanto audíveis e carregados de emoção. Christian van Horn faz sua entrada como Mefistófeles com um sombrio “Eis-me aqui!”, seguido por seis demônios que põem em prática suas maldades.

Aterrorizante, de grande estatura, ele tinge sua voz cavernosa de ressonâncias ácidas para debochar dos humanos patéticos à sua volta. Se a montagem torna suas palavras ainda mais carregadas de significado, a modulação do seu canto contribui na mesma medida para a caracterização do personagem.

Florian Sempey ataca o papel de Valentim em profundidade, conferindo maior densidade a seu personagem. O timbre é rico, dos graves encorpados aos agudos exuberantes. Sua dicção é deliciosa e está a serviço de um fraseado elaborado, cujas ênfases contribuem para uma entonação dramática: ele se mostra, aliás, comovente no momento de sua lenta agonia.

ATO I

No escritório de Fausto
Fausto, um velho estudioso, determina que seus estudos não levaram a nada e que só o fizeram desperdiçar  a vida e amores (Rien! En vain j’interroge). Ele tenta se matar duas vezes com veneno, mas para cada vez que ouve um coro. Ele amaldiçoa a esperança e a fé, e pede por orientação infernal. Mefistófeles aparece (Me voici) e, com uma imagem tentadora de Marguerite na sua roda de fiar, convence Fausto a comprar seus serviços na
terra em troca dos de Fausto no inferno. O cálice de veneno é mágicamente transformado em elixir da juventude, fazendo o velho doutor se transformar em um cavalheiro jovem e bonito. Os estranhos companheiros então partem para o mundo.

ATO II

Nos portões da cidade
Um coro de estudantes, soldados e aldeões cantam uma canção báquica (Vin ou Bière). Valentin, partindo para a guerra com seu amigo Wagner, confia o cuidado da sua irmã Marguerite a seu  amigo jovem Siébel (O sainte médaille…Avant de quitter ces lieux). Mefistófeles aparece, providencia vinho para a multidão, e canta uma empolgante e irreverente canção sobre o Bezerro Dourado (Le veau d’or). Mefistófeles amaldiçoa Marguerite, e Valentin tenta destruí-lo com sua espada, que se quebra no ar. Valentin e seus amigos usam os punhos em forma de cruz de suas espadas para afastar o que eles agora sabem ser um poder do inferno (coro: De l’enfer). Mefistófeles é acompanhado por Fausto e os aldeões em uma valsa (Ainsi que la brise légère). Marguerite aparece, e Fausto declara sua admiração, mas ela recusa o braço de Fausto por modéstia, qualidade que o faz amá-la ainda mais.

ATO III

O jardim de Marguerite
O apaixonado Siébel deixa um buquê para Marguerite (Faites-lui mes aveux). Fausto manda Mefistófeles em busca de um presente para Marguerite e canta uma cavatina (Salut, demeure chaste et pure). Mefistófeles traz uma caixa decorativa contendo jóias e um espelho de mão e a deixa na porta de Marguerite, próxima às flores de Siébel. Marguerite entra e canta uma balada sobre o rei de Thule (Il était un roi de Thulé). Marthe, vizinho de Marguerite, vê as joias e diz que devem ser de um admirador. Marguerite as experimenta e é cativada pela forma como aumentam sua beleza, enquanto canta a Canção das Joias (Ah! je ris de me voir si belle en ce miroir). Mefistófeles e Fausto juntam-se às mulheres no jardim e as cortejam. Marguerite permite que Fausto a beije (Laisse-moi, laisse-moi contempler ton visage), mas depois pede que ele vá embora. Ela canta em sua janela para seu rápido retorno, e Fausto, ouvindo, retorna. Sob o olhar atento e a risada malévola de Mefistófeles, está claro que a sedução de Fausto será bem sucedida.

ATO IV

Quarto de Marguerite/ Uma praça pública/ Uma catedral
Depois de engravidar e aparentemente ser abandonada por Fausto, Marguerite deu à luz e é uma pária social. Ela canta em sua roda de fiar (Il ne revient pas). Siébel está ao seu lado. Na praça próxima à casa de Marguerite, a companhia de Valentin volta da guerra para uma marcha militar (Déposons les armes/Gloire immortelle de nos aïeux). Siébel pede que Valentin perdoe Marguerite. Valentin corre para o seu chalé. Fausto e Mefistófeles aparecem, e o segundo, sabendo que Marguerite não está sozinha, canta uma serenata zombeteira embaixo de sua janela (Vous qui faites l’endormie). Valentin morde a isca e sai do chalé, agora sabendo que Fausto debochou de sua irmã. Os dois homens lutam, mas Fausto hesita em ferir o irmão da mulher que ele ama. Mefistófeles bloqueia a espada de Valentin, permitindo que Fausto dê o golpe fatal. Em seu suspiro final Valentin culpa arguerite por sua morte e a condena ao inferno (Ecoute-moi bien Marguerite). Marguerite vai a igreja e tenta rezar, mas é impedida pelo sádico Mefistófeles e um coro de demônios. Ela termina sua prece, mas desmaia quando é amaldiçoada novamente por Mefistófeles.

ATO V

As montanhas Harz em Walpurgis Night/ Uma caverna/ O interior de uma prisão Mefistófeles e Fausto são cercados por bruxas (Un, deux et trois). Fausto é transportado para uma caverna de rainhas e cortesãs, e Mefistófeles promete dar a Fausto o amor das mais belas mulheres da História. Um balé insinua a orgia que continua pela noite. Fausto tem uma visão de Marguerite e a chama. Mefistófeles o ajuda a chegar até ela, que é prisioneira por ter matado seu filho. Eles cantam um dueto de amor (Oui, c’est toi que j’aime). Mefistófeles afirma que apenas uma mão mortal pode liberar Marguerite de seu destino. Fausto se oferece para resgatá-la do carrasco. Ela prefere confiar seu destino a Deus e seus anjos (Anges purs, anges radieux). No final, ela pergunta por que as mãos de Fausto estão cobertas de sangue, empurra-o para longe, e cai, imóvel. Mefistófeles amaldiçoa, enquanto uma voz acima canta “Salva!”. Os sinos da Páscoa soam e um coro de
anjos canta “Cristo ressuscitou!”. As paredes da prisão se abrem, e a alma de Marguerite sobe para o céu. Fausto observa, desesperado; ele cai de joelhos e reza. Mefistófeles é afastado pelo brilho da espada do arcanjo.