DER MESSIAS

De Georg Friedrich Händel / Wolfgang Amadeus Mozart - Festival de Salzburgo



Oratório com 51 movimentos divididos em 3 partes

Libreto: Charles Jennens

Cantada em alemão

Duração : 2h10

Maestro : Marc Minkowski
Diretor : Robert Wilson
Orquestra : Les Musiciens du Louvre

Elena Tsallagova
Wiebke Lehmkuhl
Richard Croft
José Coca Loza

O Messias apresenta a profecia e o nascimento de Jesus, os episódios da Paixão e o tema da Redenção.

O Messias é a afirmação da glória de um Händel abatido pelo fracasso de suas últimas óperas em Londres, porém com sua inspiração e seu talento intactos. Composto em 1741, o oratório foi retomado em 1788 por Mozart e pelo barão Van Switen para ser reapresentado ao público de Viena. As palavras são traduzidas para o alemão, porém não é esta a principal mudança: Mozart se apropria da música e elabora para ela um novo arranjo. Der Messias acrescenta ao Messias barroco de Handel a opulência da orquestra clássica vienense, trocando o destaque dado originalmente ao órgão pelo conjunto dos instrumentos de sopro, desenvolvendo uma dramaturgia e inserindo na partitura procedimentos adotados na ópera mozartiana. “Mozart instalou uma orquestra mais sinfônica”, observa Marc Minkowski, responsável pela direção musical desta produção. “Ele veio somar alguns pontos luminosos, como se Van Gogh estivesse repintando a Mona Lisa, como um pintor que acrescenta cores com harmonias diferentes”, prossegue.

O nascimento, a Paixão e a ressurreição de Cristo evocados pelos textos que o libretista Charles Jennens coletou na Bíblia oferecem a Robert Wilson uma oportunidade para expor seu gosto pelo humor e pela espiritualidade. “A religião nada tem a fazer num palco de teatro. Já a espiritualidade – ao contrário – encontra ali seu lugar.” A amplitude dessa visão de uma afirmação de fé se estende nesse Messias surpreendente, que promove um diálogo entre a seção relativa à infância e o extravagante – beirando o fantástico – com o plano existencial.

O Messias descrito por Bob Wilson se parece mais com uma viagem espiritual do que com uma obra sagrada. Com uma atenção especial ao aspecto visual da montagem, ele aborda o oratório sob uma estética da abstração surrealista, recorrendo a Miró e De Chirico, evocando florestas mortas, um velho com uma barba ao estilo dos amish, um dançarino de dorso nu que se agita num monte de feno ou escondido num traje de astronauta ou ainda um manequim sem cabeça com uma lagosta aos seus pés… É preciso se deixar levar pela força dos símbolos que habitam os sonhos do diretor.

O tenor franco-mexicano Rolando Villazón, diretor artístico da Semana Mozart, assim descreve o trabalho de Robert Wilson: “É como uma pintura que se desenvolve, que exibe diferentes facetas, como se avançássemos por um enorme quadro, como se penetrássemos no seu interior e pudéssemos ver como a luz vai mudando”, se entusiasma ele.

O coral – Philharmonia Chor Wien – impressiona por sua dicção, sua precisão, sua potência e mesmo por sua capacidade de acompanhar o irresistível tempo – não sem risco em Er trauete Gott – ditado por Minkowski. Este mostra-se um regente intenso, e mesmo sombrio, trabalhando com uma partitura tratada pelos músicos com uma sensibilidade cativante para as atmosferas e as cores.

1ª PARTE
Apresenta a profecia e nascimento de Jesus, o Messias (Advento e Natal)
A obra se inicia com uma sinfonia: uma breve abertura com uma introdução lenta e marcada, seguida de um movimento alegre. Logo começa a primeira parte, em que a inquietação dá lugar à esperança pela voz do tenor. Passa-se logo em seguida para as profecias apocalípticas de profetas do Velho Testamento. O baixo muda o clima ao anunciar a chegada de catástrofes e calamidades. E chegará então o consolo para todos os povos; o Senhor a quem buscais virá ao seu tempo”. O anúncio da chegada do Menino Jesus acontece no recitativo “Behold, a virgin shall conceive”. Mas é em “For unto us a child is born” que encontramos uma das jóias do oratório, com o nascimento do Salvador. O coro canta com euforia os versos: “Pois nasceu uma criança entre nós, um filho foi-nos dado e sobre seus ombros recairá a soberania”

2ª PARTE
Relata episódios da Paixão e o sacrifício de Cristo, culminando no coral “Aleluia” (Quaresma, Páscoa, Ascensão e Pentecostes)
A vida do Messias começa a ser desvendada e sua morte passa a ser anunciada. A 2ª parte começa com um coro introspectivo que anuncia a imolação do Cordeiro: “Eis o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (João,1,29). No coro seguinte, a orquestra entra dramaticamente expressando com fortes acentos o martírio de Jesus: “Certamente foi Ele quem levou sobre si nossos sofrimentos e dores”. O sofrimento de Jesus pelos pecados dos homens é lembrado em “Behold and see”. O coro “Lift up your heads”, introduzido pela orquestra com vigor, entoa uma grande marcha triunfal sobre a morte e o pecado. Na ária “Why do the nations”, a orquestra e o baixo irrompem violentamente, com grande efeito teatral num concitato que questiona o porquê das nações lutarem entre si. Assim, chegamos ao coro “Aleluia”, o mais representativo do oratório, quando se demonstra toda a alegria pela vitória do Messias sobre a morte e o pecado, após a concretização das profecias enunciadas na Parte I.

3ª PARTE
Descreve o tema da Redenção
A soprano, então, abre a terceira parte da obra com uma ária afável e comovente em ritmo de minueto, com o versículo “Eu sei que o meu Redentor vive e que se levantará sobre a terra no último dia” (Jó 19, 25-26). O coro seguinte (“Since by man came”) traz um grande efeito pelo contraste entre a vida e a morte, o pecado e a ressurreição. Já a segunda ária da terceira parte (“The trumpet shall sound”) faz soar a trombeta, representando a ressurreição dos mortos. A última ária (“If God be for us, who can be against us?”) é um belo auto de fé com acompanhamento do violino. A obra se encerra magistralmente com um grandioso coro final: “Worthy is the Lamb” – “Digno é o cordeiro, que foi sacrificado para nos redimir” (Apocalipse 5,12), como uma grande antífona.