AS BODAS DE FÍGARO

De Wolfgang Amadeus Mozart - Ópera do Estado de Berlim



Ópera-bufa em 4 atos

Libreto: Lorenzo Da Ponte

Baseado na peça La folle journée ou Le Mariage de Figaro, de Beaumarchais.
Estreou em Viena, em 1786.

Duração: 2h08
Cantada em italiano

Maestro: Daniel Barenboim
Diretor: Vincent Huguet
Staatskapelle Berlin

Conde Almaviva……………..Gyula Orendt
Condessa Almaviva…………Elsa Dreisig
Suzana…………………………..Nadine Sierra
Fígaro……………………………Riccardo Fassi
Cherubino……………………..Emily d’Angelo

Fígaro e Suzana, criados do conde e da condessa Almaviva, estão ocupados com os preparativos do seu casamento. Mas a alegria dos dois se vê ameaçada pelo atrevimento do conde, disposto a tudo para seduzir a futura noiva. Com a ajuda da condessa – ela própria negligenciada pelo marido volúvel – Fígaro e Suzana terão de recorrer à sua habilidade para desarmar os ardis de Almaviva, assim como evitar as ciladas de Marcelina, Bartholo e Basílio. Para isso se valem dos equívocos do ardente Cherubino, jovem criado propenso a se apaixonar por todas as mulheres da casa.

Fruto da colaboração entre Mozart e seu libretista Da Ponte, As Bodas de Fígaro inaugura a trilogia Da Ponte, tendo sido seguida de Don Giovanni e Cosi Fan Tutte. O personagem de Fígaro foi criado numa peça anterior, de Beaumarchais, O Barbeiro de Sevilha, primeira parte de uma trilogia intitulada O romance da família Almaviva.

Há quem considere as Bodas como uma das óperas mais miraculosas de todo o repertório, talvez mesmo a mais perfeita jamais escrita. A intriga, sempre divertida, se desdobra num ritmo vertiginoso, sendo enriquecida de peripécias que atendem perfeitamente ao equilíbrio entre os quatro atos. Porém, por trás do humor picante das situações – aqui a cólera de Figaro, ali a arrogância do conde, mais adiante a malícia de Suzana ou a melancolia da condessa – Mozart examina as almas e os corações, tingindo de uma vaga melancolia esses jogos entre o amor e o acaso. É Mozart o verdadeiro dramaturgo de suas Bodas, inserindo – numa narrativa luminosa – árias que se transformam em duos, duos em trios, trios em tutti, numa criatividade melódica estonteante, sempre borbulhante e renovada. Uma ópera que se adequa bem ao seu título Folle journée (um dia de loucuras), marcada por um encanto delicado, profunda como a vida, universal como só Mozart sabe ser.

O diretor Vincent Huguet transpõe a folle journée para a década de 1980, numa estética digna dos primeiros filmes de Almodóvar: todos os elementos das Bodas de Fígaro podem ser reconhecidos na cenografia posta em prática por Aurélie Maestre no interior da casa de um produtor fonográfico (o conde). Casado com uma antiga estrela de rock (Rosina, aliás, a condessa), a quem ele trai desavergonhadamente. O conde decide invocar um direito teoricamente abolido (o de desfrutar a primeira noite com uma noiva que não lhe pertence). O termo “teoricamente” valendo tanto para os dias de Beaumarchais, inspirador do libreto de Lorenzo da Ponte, como para a época da febre da música disco.

O jovem elenco mostra-se animado e divertido. Todas as cenas pautadas pelas confusões de identidade e disfarces são vividas pelos intérpretes com visível prazer, demonstrando sensibilidade para as nuances e para as tiradas dirigidas à plateia. A voz ligeiramente metálica da soprano Elsa Dreisig cai bem para a imagem de uma estrela de rock. E Nadine Sierra nos brinda com seu timbre luminoso, sua vitalidade e com a naturalidade de sua atuação. O barítono Gyula Orendt encarna um conde dado a crises coléricas, capaz de se tornar um macho sensível, convincente em plena crise dos quarenta anos. Já o Fígaro do barítono Riccardo Fassi é um jovem dominado pela impaciência que, com seu orgulho ferido, reage recorrendo à sua virilidade. Do fosso da orquestra, o maestro Daniel Barenboim comanda a Staatskapelle Berlin numa execução vibrante e segura.

ATO I

Suzana, doméstica da Condessa Almaviva, e Fígaro, o criado do Conde, preparam suas núpcias, que prometem ser complicadas, pois o Conde pretende exercer seu direito de pernada na futura noiva, e Fígaro deve enfrentar as maquinações de Marceline, Basile e Bartholo. Tudo isso sem esquecer o jovem pajem Cherubino, que surpreendeu o Conde Almaviva cortejando Suzana. Para afastá-lo Almaviva decide mandá-lo para o exército. Fígaro ironiza a nova missão do pequeno pajem.

ATO II

Para tirar a atenção do Conde Almaviva de Suzana, Fígaro traçou um plano: em um bilhete, ele o fará acreditar que a Condessa Almaviva, sua esposa tristemente negligenciada, encontrará um amante fictício naquela mesma noite. Quanto ao encontro que o Conde marcou com Suzana no jardim, é Cherubino vestido de mulher que a substituirá!

ATO III

Os imbróglios se multiplicam: Suzana e a Condessa conseguiram enganar o Conde, que viu apenas fogo quando Cherubino, escondido no quarto da Condessa, fugiu pulando pela janela. Mas, de seu canteiro de flores, o jardineiro Antonio viu tudo – ou pelo menos é o que acredita. Ele corre para relatar a cena ao seu mestre. O que dificulta para Fígaro, que perdeu o episódio, não seguir os erros cometidos diante de Almaviva. Marceline, Bartholo e Basile aparecem e pretendem aproveitar a situação para acertar as contas com o Fígaro. A confusão reina. O Conde Almaviva pondera sobre sua vingança. Fora enganado ou não? Suzana, que aceitou seu encontro, estaria escondendo algo dele? E pensar que não conseguiu nem colocar Marceline nos braços de Fígaro, pois, em uma reviravolta incrível, a matrona acabou por ser a mãe dele! A Condessa Almaviva, por sua vez, canta sua saudade dos dias felizes.

ATO IV

À noite, o jardim do castelo é o ponto de encontro de incertezas e fingimentos: poderia Suzana trair Fígaro? Não, é claro que não. Fígaro simplesmente não percebe o que Suzana e a Condessa planejaram para confundir o Conde. Além disso, este está preso em sua própria armadilha. E quando acredita que surpreenderá sua esposa no ato de adultério, é ele quem deverá implorar o perdão final. O casamento de Fígaro e Suzana acontecerá – a alegria geral é a promessa.