Carmen

Direçao Dmitri Tcherniakov

Exclusivo

Ópera cômica em quatro atos de Georges Bizet

Libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy

Cantada em francês

Festival Aix en Provence

Duraçao: 3h05 com 1 intervalo

Maestro PABLO HERAS-CASADO

Direçao DMITRI TCHERNIAKOV

Figurino ELENA ZAYTSEVA

Coro infantil Maîtrise des Bouches-du-Rhône

Orquestra Nacional de Paris

Classificação indicativa: 12 anos

Projeção gratuita Festival Aix en Provence

Em parceria com a Fondation Orange

      

 

STEPHANIE D’OUSTRAC: Carmen

MICHAEL FABIANO: Don José

ELSA DREISIG: Micaëla

MICHAEL TODD SIMPSON: Escamillo

GABRIELLE PHILIPONET: Frasquita

VIRGINIE VERREZ: Mercédès

MATHIAS VIDAL: Le Remendado

Uma terapia experimental, praticada sob a forma teatral, deve ajudar um homem que não tem mais gosto por nada a recuperar emoções e impulsos. O tema proposto: a história de Carmen. O homem deve fingir ser Don José, sua esposa toma a identidade de Micaela, e atores profissionais endossam todas as outras personalidades, entre elas a de Carmen. Inicialmente irritado, o homem entra no jogo e se “torna” Don José, até perder a cabeça.

O diretor russo Tcherniakov, famoso por seus pontos de vista diferentes, inventa aqui outro contexto no qual situa a história de Carmen, sem mudar uma nota da música e sem modificar a intriga. A aposta é bem extrema, mas funciona magnificamente bem e permite renovar um roteiro que se tornou certas vezes ingênuo de tanto ter estereótipos envelhecidos.

Tcherniakov não se proíbe nenhum registro, da « narrativa em abismo » paródica à violência física e psicológica, levada ao seu paroxismo, tecendo em torno da intriga original um roteiro complexo. De imprevisíveis reviravoltas a aparentes improbabilidades, as tensões se exacerbam, até o momento em que a vida dos personagens muda. Começando com riso e piadas simplórias, a história vai ficando sombria aos poucos, pois tendo vencido suas reticências e irritações, José vai se comover com Carmen. E, subitamente, o espelho que o diretor entrega a esse homem de terno azul que se tornou o anti-herói de uma ficção a qual ele não domina, e reflete nitidamente o destino de Don José.

A ideia de Tcherniakov pode surpreender ou irritar, mas ela se revela muito eficaz. Tendo optado pela erradicação dos recitativos de Ernest Guiraud, ele volta às origens da obra optando pela versão original, com diálogos falados, e pela partitura integral, sem os cortes realizados após a morte de Bizet. Ele recorre aos atores para ler as didascálias, o que contribui para focar inteiramente o espetáculo nos personagens.

O maestro Pablo Heras-Casado dirige com legibilidade, intensidade e um grande cuidado dado às nuanças e aos equilíbrios, uma excelente Orquestra de Paris. É preciso louvar também a magnífica participação do conjunto Aedes: não contentes em provocar magníficos momentos de música, com uma delicadeza de fraseado e uma grande pureza de cores, os coristas, que têm aqui o visual de funcionários ou de contadores, se entregam a um verdadeiro desempenho teatral desde o momento em que brincam de ser soldados, operárias e até crianças de Sevilha.

Para apresentar esse projeto audacioso era preciso uma equipe que entrasse no jogo sem comedimento. Os papéis secundários são impecáveis e Stéphanie d’Oustrac, que conhece bem o papel principal, tem o físico, o requinte musical e a voz para encarnar a mulher fatal. Primeiro deliberadamente caricatural, ela se diverte com a ilusão que improvisa, antes de se jogar na imperiosa realidade do drama.

Michael Fabiano beneficia de uma produção que o coloca decididamente no centro das atenções. Num ótimo francês, ele mostra que possui a força necessária para garantir os esplendores do personagem.

A Micaëla de Elsa Dreisig mistura estilo e graça em sua interpretação de um personagem em geral sacrificado. Entre os papéis secundários, todos muito bem cuidados, destacaremos a  Mercédès de Virginie Verrès, o Dancaïre de Guillaume Andrieux e o Remendado de Mathias Vidal.

Ato I

Na praça cheia de soldados, uma camponesa procura em vão o cabo Don José. Ele chega depois, adivinhando que a jovem é Micaela. Enquanto isso, o capitão Zuniga, recém-chegado de Sevilha, fica sabendo que centenas de mulheres trabalham na fábrica de cigarros. Ao toque de um sino, elas saem ruidosamente, enquanto Carmen canta o amor livre. Ela atira uma flor para Don José. Micaela entrega uma carta que é lida em voz alta por Don José. Sua mãe diz que é hora de casar e sugere que tome Micaela como noiva. De repente, uma briga irrompe na fábrica, e Carmen é acusada. Zuniga ordena que ela tenha as mãos atadas, e ela flerta com Don José, propondo um encontro e convencendo-o a soltar-lhe as amarras. Ao ser conduzida para fora dali, ela foge.

Ato II

Dois meses depois, Carmen entretém oficiais numa taberna e descobre que Don José cumpriu pena de prisão por tê-la libertado. Chega Escamillo, o toureiro, apregoando seus feitos. Ele tenta conquistar Carmen, mas ela o rechaça. Quando o local esvazia, contrabandistas buscam ajuda para enganar os guardas na fronteira. Carmen se recusa, dizendo-se apaixonada. Chega Don José, e ela dança para ele. Mas ele ouve cornetas convocando-o de volta ao quartel, e ela zomba dele. Para provar seu amor, ele mostra a flor que ela lhe atirou. Zuniga vem cortejar Carmen e é desarmado. Don José se dá conta de que deve fugir.

Ato III

No esconderijo dos contrabandistas, Carmen já perde o interesse por Don José. As ciganas leem a sorte nas cartas; preveem as mortes de Carmen e Don José. Ele fica montando guarda. Ali perto, Micaela reúne coragem para entrar no acampamento. Aparece Escamillo, em busca de Carmen. Don José o desafia. O toureiro de início se sai melhor, mas tomba. Carmen salva sua vida, e ele a convida para sua próxima tourada. Don José fica furioso, mas, informado por Micaela de que sua mãe está morrendo, parte, jurando voltar a encontrar Carmen.

Ato IV

Em frente à praça de touros, crianças saúdam Escamillo, acompanhado por Carmen. Ela é advertida pelas amigas de que Don José também está presente. Ao encontrá-la, Don José implora que volte para ele, insistindo que a ama. Ela o rejeita, declarando que nasceu livre. Ele a apunhala. Quando surge o triunfante Escamillo, Don José confessa em prantos ter matado sua amada Carmen.