A Favorita

Direção: Amélie Niermeyer

Exclusivo

La favorite

Ópera em quatro atos de Gaetano Donizetti

Libreto de Alphonse Ryoyer, Gustav Vaëz e Eugène Scribe

Cantada em italiano

Ópera do Estado da Bavaria

Duração 2h36

Maestro KAREL MARK CHICHON

Direção: AMELIE NIERMEYER

Figurino KIRSTEN DEPHOFF

Orquestra e coro da Ópera do Estado da Bavaria

Classificação indicativa: 12 anos

 

ELĪNA GARANČA: Léonor de Guzman

MATTHEW POLENZANI:  Fernand

MARIUSZ KWIECIEN: Alphonse XI

MIKA KARES: Balthazar

JOSHUA OWEN MILLS:  Don Gaspard

ELSA BENOIT:  Inès

Um triângulo amoroso envolvendo o Rei de Castela, Alfonso XI, sua amante Leonora e seu amante Fernando. A história se desenrola no contexto das invasões mouras na Espanha e as lutas de poder entre igreja e estado.

A Favorita de Donizetti não tinha mais sido apresentada em palco em Munique há cem anos. Essa ópera, que Donizetti tenta fazer como uma grande ópera à francesa, fez parte do repertório da Ópera de Paris desde sua criação em 1840 até 1918, depois desapareceu do palco até 1991.

O libreto, composto por Alphonse Royer e Gustave Vaë, originalmente previsto para L’Ange de Nisida, uma ópera que nunca foi representada devido à falência da trupe que devia levá-la ao palco, foi modificado por Eugène Scribe. Há as características da grande ópera com a importância dada aos cenários e efeitos cênicos na representação de uma intriga baseada num evento histórico dramático.

A jovem diretora Amélie Niermayer escolheu renunciar aos cenários históricos suntuosos e optar por cenários minimalistas e figurinos contemporâneos, que nos afastam da corte sevilhana do Rei Alfonso X. Niermeyer optou pelo abandono da referência histórica, para favorecer uma abordagem psicosociológica da figura de Léonor (Elīna Garanča), que visa destacar a condição feminina da cortesã e o machismo, tanto dos seus amantes quanto da sociedade. Nem Alphonse (Mariusz Kwiecien) nem Fernand (Matthew Polenzani) veem Léonor como uma pessoa de verdade. O Rei a trata como uma prostituta real, um pedaço de carne que ele reserva para si; Fernand se apaixona loucamente, mas não se comunica com ela e a transforma num objeto de paixão.

Niermeyer vem do universo do teatro: a atuação, os sentimentos e as emoções, entre os diferentes personagens são intensos, poderosos e expressivos. Ela volta os projetores para a atuação dos atores e suas interações, solicitando aos cantores qualidades de interpretação teatral. Então, ficamos diante de um grupo de atores e, desse ponto de vista, a noite é um regalo, particularmente com a atuação de Elīna Garanča que faz uma Léonor cenicamente muito madura, que seduz com sua voz quente e sensual de mezzo e dispõe de uma bela extensão e belos graves, com um timbre suntuoso que combina maravilhosamente bem com as nuanças da melancolia. Matthew Polenzani é dotado de uma excelente dicção; ele trabalha com prazer cada frase e convence no papel de Fernand, mesmo se sua forma de terminar seus voos líricos diminuindo o volume e cantando o agudo com uma voz leve e estridente lá onde se esperava bravura surpreende um pouco. A dicção do barítono Mariusz Kwiecien também é impecável e sua participação recebe aplausos francos, sobretudo pela composição do seu personagem. O Balthazar de Mika Kares também é muito apreciado: o cantor finlandês põe sua imponente estatura e seu baixo vibrante e sonoro a serviço do papel surpreendentemente protetor de um superior de convento que dá provas de muito menos rigor do que as ameaças de excomunhão vindas da sua hierarquia. Ouvimos com prazer a voz soprano com uma nitidez cristalina de Elsa Benoit, que agora está na trupe de Bayerische Staatsoper e faz aqui uma excelente Inès. O tenor de Joshua Owen Mills como Don Gaspard participa do mesmo frescor.

Karel Mark Chichon rege a Bayerische Staatsorchester dando um tom italiano a uma música que se diz francesa e cuja linguagem orquestral ele destaca bem. Preocupado com uma boa coordenação com o palco, ele oferece uma visão equilibrada da obra, com passagens abruptas de uma música lenta e interiorizada a uma música grandiloquente e intensa.

Um espetáculo muito bonito cuja dramatização progressiva resulta nos melhores efeitos nos dois últimos atos.

Ato I

Noviço no mosteiro de Santigo de Compostela, Fernand confessa a Balthazar, seu superior, sua obsessão com uma bela mulher que viu orando na igreja.  Balthazar o libera e ele sai à procura de Léonor, numa ilha. Ela também o ama, mas não ousa revelar ser a amante do rei.

Ato II

Após derrotar os mouros, o rei Alphonse quer o divórcio para se casar com Léonor. Apaixonada por Fernand, ela implora ao rei que a libere. Ele recusa, mas fica perturbado ao ler uma carta de amor para ela que fora interceptada. Balthazar, que é também pai da rainha, ameaça excomungar o rei se ele se divorciar.

Ato III

Alphonse recebe Fernand como herói de guerra e promete atender a qualquer desejo seu. Ele pede a mão de Léonor, e o rei concorda. Léonor tenta informar Fernand sobre seu passado antes que se casem, mas ele não recebe a mensagem. Ao saber a verdade por Balthazar, quebra a própria espada diante do rei e volta para o mosteiro de Santiago.

Ato IV

A rainha morreu de pesar, e em seu funeral, em Santiago, Fernand rememora o antigo amor. De repente, Leónor aparece disfarçada de noviço, fraca e doente. Fernand diz que se vá, mas é de novo tomado pela paixão. Prepara-se para fugir com ela, mas ela morre em seus braços.